Empresa de restaurante com 363 funcionários, iniciou como uma pequena padaria produzindo pão cozido no vapor.
por Kim Mi Jin
Sungsimdang é uma palavra coreana que significa “Sagrado Coração” e dá nome a uma das padarias mais tradicionais da Coreia do Sul. Localizada em Daejeon, cidade com 1,5 milhão de habitantes, a 170 quilômetros da capital, Seoul, a confeitaria é nacionalmente conhecida pelos deliciosos quitutes artesanais inspirados na gastronomia ocidental. A qualidade da Sungsimdang lhe rendeu uma referência no Guia Michelin, o mais importante guia turístico do mundo.
Mas os consumidores não são os únicos que experimentam um sabor diferente ao visitar a confeitaria. Empregados, habitantes de Daejeon e até mendigos sentem ali o gostinho de um negócio
fundamentado na cultura da comunhão, cujas raízes são de longa data.
A Sungsimdang foi fundada em 1956 por um vendedor de frutas que fugira com a família do norte do país durante a Guerra da Coreia (1950-1953), gastando tudo o que tinha. O início da produção só foi possível graças a dois sacos de farinha doados pelo pároco de Daejeon. Na década de 1980, Im Young Jin, filho do fundador, assumiu, ao lado da esposa, a direção da empresa, que dirigiu com grande espírito de inovação e transparência no pagamento dos pesados impostos, a despeito das recomendações de que não o fizesse para não ir à falência.
Em 1999, depois de a
Sungsimdang ter enfrentado sua primeira grande crise, Jin e a esposa, Kim, conheceram o projeto de Economia
de Comunhão em uma Escola Internacional EdC, em Tagaytay, nas Filipinas, e decidiram aderir à
proposta. “A EdC era factível? Ainda não havia na
Coreia nenhuma empresa adepta e tínhamos um débito de 30 bilhõesde won (cerca de 225 mil euros). No entanto, sentíamos que a vocação da Sungsimdang era
ser um modelo, então decidimos dar um passo de cada vez. Doamos aos pobres 1 milhão de won (750 euros), o equivalente ao salário mensal de um funcionário. Estabelecemos como filosofia de gestão a busca do bem de todos”, conta Kim Mi Jin.
Apesar do entusiasmo,
durante os primeiros anos dadécada de 2000, o negócio caminhava com dificuldades devido às dívidas e à alta carga tributária, que os proprietáriosse recusaram a sonegar. Em 2005, um incêndio atingiu o prédio da
empresa e fez parecer impossível o sonho de comemorar os 50 anos do empreendimento. “No dia seguinte ao incêndio, porém, uma surpresa: todos os funcionários se apresentaram para reconstruir a confeitaria com o slogan 'se a empresa ficou sob as cinzas, nós a
reconstruiremos’. Em uma semana já produzíamos pães novamente”, relembra Kim.
Depois do episódio, os empreendedores decidiram provocar uma mudança de rota nos rumos do negócio. A confeitaria não deveria ser um local de luxo aos olhos dos pobres nem miserável aos olhos dos ricos, mas uma casa acolhedora para todos. A prioridade passou a ser produzir pães grandes e sempre quentes. Além disso, diferentemente da política adotada pelas franquias, todo o pão produzido durante o dia e não vendido passou a ser doado aos pobres. Segundo Kim, embora não tenha sido
mercadologicamente calculada, essa estratégia levou a um incrementode 30% nas vendas.
Com o aumento das vendas, a partir de 2006, a Sungsimdang passou a dividir com os funcionários 15% do lucro e a doar outros 20%. “Procuramos criar uma comunidade dentro da empresa, um relacionamento de comunhão com os funcionários, interessando-nos pelas suas condições de trabalho e colocando em relevo sua criatividade”, explica Kim.