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As raízes do falimento humano. Uma pesquisa libertadora e construtiva

Mind the Economy - série de artigos de Vittorio Pelligra, publicados no jornal "Il Sole 24 ore"  

por Vittorio Pelligra

publicado em italiano no Il Sole 24 ore em 10/01/2021

Nem todos os erros são iguais e nem todos nós cometemos erros da mesma maneira. Na linha da primeira consideração que nos concentramos nas últimas semanas, apontando como é possível classificar por um lado os "erros de planejamento" - as ações que pensávamos que poderiam nos levar ao resultado desejado não eram de fato funcionais para atingir o objetivo -, e por outro lado os "erros de execução" – que embora o plano tenha sido bem pensado, de alguma forma foi mal executado em alguma parte, levando ao fracasso em atingir o objetivo.

Indo um pouco mais fundo, podemos também classificar os vários erros com base no nível em que eles ocorrem. Desta forma, podemos identificar erros baseados em habilidades que geralmente se referem a comportamentos automáticos, que ativamos sem pensar e que nos induzem a cometer erros especialmente quando são cometidos em contextos equivocados: é muito bom colocar uma colher de sal na água para a massa, não tão bom se a despejarmos na massa para o bolo como se fosse açúcar. Depois temos os erros que intervêm no nível das regras (baseados em regras). Nestes casos acontece que as regras pré-estabelecidas, as rotinas que aprendemos e que geralmente funcionam muito bem em certos contextos, são, no entanto, aplicadas nos contextos errados ou em momentos inadequados.

Uma observação conhecida pelos professores de inglês diz respeito ao fato de que quando, especialmente crianças, começam a usar o pretérito dos verbos regulares (-ed), os erros no uso do pretérito dos verbos irregulares aumentam mesmo que estes tenham sido usados anteriormente da forma correta. Por isso, frequentemente se escreve “goed” em vez de “went” e “maked” em vez de “made”.

Quando o conhecimento engana

Finalmente, há erros baseados no conhecimento. Eles ocorrem quando já percebemos que estamos diante de uma situação problemática e estamos tentando encontrar uma solução de forma criativa. Normalmente, taias erros surgem quando falhamos em suprimir a vontade de aplicar soluções antigas a novos problemas. Essa classificação de erros traz uma perspectiva interessante que nos permite observar, entre outras coisas, como em cada um dos três tipos existe uma dimensão de automatismo, o que os especialistas chamam de “absent-mindness” (ausência de consciência).

No início, dissemos que nem todos os erros são iguais e também que nem todos nós cometemos erros da mesma maneira. Na verdade, cada um de nós, devido a características individuais, de personalidade, história passada, somos mais ou menos vulnerável a erros, especialmente os "inconscientes". Um elemento que parece influenciar a probabilidade de cometer tais erros é a idade. Isto pode não ser surpreendente, se pensarmos no fato de que todas as nossas capacidades cognitivas, prontidão para calcular, memória, capacidade inferencial, tendem a piorar à medida que envelhecemos. Exceto, entretanto, que os dados mostram que a relação entre idade e vulnerabilidade a erros inconscientes é uma relação inversa. Quanto mais velhos ficamos, menor é a probabilidade de cometermos tais erros. Se é verdade que à medida que envelhecemos temos mais dificuldade para lembrar os nomes, como também alguns dos passos sequenciais necessários de ações pré-estabelecida - pegar as chaves antes de sair de casa, por exemplo, assim como esquecemos mais facilmente onde colocamos as coisas, em todos os outros casos de possíveis erros inconscientes (como por exemplo escorregões e lapsos), com o avanço da idade nos tornamos mais confiáveis e seguros.

A idade nos ajuda, por mais estranho que pareça.

Muitos têm tentado dar uma explicação para esta relação decididamente contra-intuitiva. Alguns apresentaram a chamada "hipótese de atividade", segundo a qual, como os idosos são menos ativos e comprometidos, eles estão menos propicios a ocasiões em que podem ocorrer erros. Seria, portanto, uma explicação baseada no número reduzido de oportunidades de cometer erros. Outros, ao invés disso, propuseram uma explicação baseada na "hipótese da compensação", segundo a qual, precisamente a maior conscientização dos idosos com relação à sua vulnerabilidade, os levaria a mobilizar todos os seus recursos cognitivos e de memória em evitar aqueles erros que, de outra forma, ocorreriam com muita freqüência. Apesar das tentativas, ambas as hipóteses não encontraram apoio nos dados e observações, e a relação indireta entre idade e erros inconscientes permanece tão sólida quanto inexplicável.

Se com o passar dos anos nos tornamos cada vez menos sujeitos à "ausência de consciência", esse fato é, ao invés disso, amplificado por todas aquelas situações ambientais ou condições existenciais que induzem ao estresse. Os fatores de estresse, na verdade, parecem estar fortemente correlacionados com a probabilidade de cometer erros inconscientes. Tentando compreender plenamente os mecanismos subjacentes a esta "hipótese de vulnerabilidade ao estresse", descobriu-se que não são tanto as circunstâncias ou experiências estressantes que nos tornam mais vulneráveis a erros, mas, ao contrário, é a forma como lidamos com situações complicadas, relacionadas com a forma como nossos recursos cognitivos e de atenção são alocados para diferentes tarefas.

Estratégias não otimizadas

Em outras palavras, os especialistas nos dizem que as pessoas que têm mais dificuldade em administrar psicologicamente situações de estresse, utilizam estratégias que são cognitivamente mais difíceis, ou seja, acabam precisando de mais "energia mental" e, por esta razão, por um lado são menos eficazes, e por outro, expõem-se a um risco maior de cometer erros "inconscientes".

Os erros não são todos iguais e não cometemos todos os erros da mesma maneira. Duas considerações que parecem óbvias, mas que, na realidade, podem ter profundas implicações no que diz respeito à forma como consideramos e tentamos evitar erros. Se somarmos a estes elementos que, como vimos em um "Mind the Economy" anterior, a experiência é muitas vezes associada a uma maior probabilidade de cometer erros diante de situações inesperadas, percebere os que a estrutura conceitual é transformada de forma relevante em comparação com a percepção do senso comum.

Errar é humano. Ponto

Cometer erros é uma parte integrante da experiência humana. Um primeiro e decisivo passo para tentar limitar os potenciais efeitos catastróficos dos erros é aceitá-los como tal. Isso encorajaria a difusão de uma cultura de segurança onde, por exemplo, seria natural comunicar que você cometeu ou quase cometeu um erro. Estamos naturalmente acostumados, por alguma razão, a pensar no ser humano como a causa do erro e nunca como a pessoa que pode evitar o erro e, logo, as suas possíveis conseqüências desastrosas. Considerar os erros como falhas ou como eventos excepcionais, apenas torna mais difícil identificar, compreender e prevenir, portanto, o perigo. Aprender a cavar as profundezas do falimento humano pode se tornar, dessa forma, um exercício tanto libertador quanto generativo, tanto do ponto de vista pessoal quanto social.

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