A Economia de Comunhão se apresenta como alternativa viável aos anseios dos empreendedores cubanos por novos modelos de negócio.
por Cibele Lana
publicado no site da Anpecom, em 19/02/2020
O ano de 2020 começou com um evento muito importante para a Economia de Comunhão em Havana, Cuba. Cerca de 80 empreendedores de diferentes cidades se reuniram, de 10 a 12 de janeiro, para o Terceiro Encontro de Empreendedores por uma Economia de Solidária, que este ano assumiu um formato de pré-evento para o tão esperado encontro Economia de Francisco, que acontecerá em março, na Itália.
Atualmente, Cuba vive um processo de transformação em sua economia, ao menos em dois aspectos essenciais. Por um lado busca um modelo econômico em consonância com o regime sócio-político do país, e por outro, testemunha um processo de abertura e desenvolvimento acelerado do setor privado, que teve início há poucos anos e já representa 30% da força de trabalho do país.
Diante dessa realidade, os painéis apresentaram temas complexos e desafiadores aos empreendedores. Esteve em discussão, por exemplo, o fato de que em Cuba há constantes mudanças na lei que, geralmente, oferecem mais restrições às atividades econômicas privadas do que efetivamente promoção desse setor capaz de gerar tantas riquezas.
Além disso, os empresários também refletiram sobre a fraca adesão cultural às Tecnologias da Informação, o que prejudica potenciais melhorias na gestão financeira, planejamento e análise de informações das empresas. Sem contar que apenas agora, a utilização das redes sociais, os investimentos em marketing e publicidade on-line, além dos serviços de internet banking, figuram como tendência entre os empresários.
"Nesse cenário de mudança, a mentalidade capitalista também cresce com fora e acaba deixando de lado uma das características mais nobres do povo cubano que é a solidariedade", explica Antônio Cunha, coordenador da EdC em Cuba.
Por isso, o encontro com os empreendedores adquiriu uma importância indiscutível. Por meio de espaços de networking, experiências de gestão baseadas no respeito às pessoas, à sociedade e ao meio ambiente, os empreendedores puderam enxergar uma alternativa, um outro modelo para fazer negócios, dinheiro e construir empresas.
Armando Tortelli, empresário pioneiro da EdC no Brasil, também esteve presente para compartilhar sua experiência empreendedora nesse sentido, durante o painel Desafios e Oportunidades.
Tortelli destacou a dimensão ética nos negócios e a promoção de valores que se estendem do núcleo familiar aos colegas e funcionários da empresa, também considerados "família".
Diante da disseminação de práticas enraizadas de corrupção no Brasil, o empresário reforçou que um protagonismo da Economia de Comunhão combate esses males com sua ética e com seus valores intrínsecos. Essas atitudes possibilitam que trabalhadores, fornecedores e clientes se identifiquem com os valores que uma empresa da EdC promove.
"Fui para Cuba disposto a compreender cada um e esquecer as polêmicas do país. Minha ideia era de não ver o povo e o país com um olhar de curiosidade, mas com o desejo de ver a beleza. Cuba, nos últimos anos, permitiu pequenas iniciativas. E a Associação Mundo Unido (ONG que tem relação direta com a EdC) tem apoiado pessoas que desejam empreender com um projeto semelhante ao nosso PROFOR", comentou Tortelli.
Outros painéis do encontro destacaram a contribuição não só da Economia de Comunhão, como de outras redes de empreendimentos solidários e sociais diante da transformação da economia de Cuba.
Juntas, essas experiências inovadores permitiram uma nova visão da economia e abriram outras perspectivas aos empreendedores cubanos.
Leia mais: <<Conferência da EdC no Brasil, Prophetic Economy e Economia de Francisco: o que esses eventos têm em comum?>>