Foi dada a largada das assinaturas pelo Novo Pacto Global por uma Economia mais Justa, Inclusiva e Regenerativa, no dia 20, durante o segundo dia de evento Economia de Francisco, no Brasil. Em menos de três minutos, foram registradas mais de 100 assinaturas. Para Maria Helena Faller, presidente da Associação Nacional por uma Economia de Comunhão (Anpecom) é “um ponto de chegada e de partida”. De “chegada” pela realização do evento, de “partida” pelo pacto que será assinado presencialmente em 2021.
por Rodrigo Apolinário - publicado no site Anpecom
«Não basta falar, é necessário se comprometer a agir», disse Maria Helena que garantiu que o propósito de “uma economia mais justa, inclusiva e regenerativa” pode até parecer genérico, mas o chamado certamente é pessoal. «Cada um deve consultar a si mesmo sobre esse compromisso».
«Assinar esse documento é assumir a responsabilidade de agir nos próprios ambientes, fazendo uso de todos os meios possíveis. São necessários novos hábitos e novas políticas públicas para que a realidade mude, mas para que isso se concretize nós também precisamos assumir nosso papel nessa mudança».
Para a participante Cecília Melo, «a Economia de Francisco é algo grandíssimo. Vamos movimentar para fazer ondas e chegar a muitos». Outra participante, a Maria Madalena Lúcio também ficou impactada positivamente: «Acredito que encontrei ajuda para dar sentido à minha vida de doação aos mais vulneráveis e também ao meu desenvolvimento econômico, no qual sempre relutei em direcioná-lo no mundo capitalista sem propósito com o próximo».
Consolidar, de forma sistêmica, uma economia mais justa, inclusiva e regenerativa
Durante o segundo dia do evento, foi realizado um painel mediado pelo Pedro Telles, diretor de relacionamento e gestor de comunidades no Sistema B Brasil. Para nortear o diálogo de temas e pontos de vista, ele trouxe o questionamento “como atuamos para consolidar de forma sistêmica, uma economia que seja mais justa, inclusiva e regenerativa?”. O painel contou com participações da Célia Cruz, diretora executiva do ICE, Lucas Ramalho Maciel, coordenador da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO), do Ministério da Economia, e Marcel Fukayama, empreendedor de impacto, cofundador do Sistema B Brasil e diretor-executivo do Sistema B Internacional.
Célia, trouxe um cenário desafiador provocado pela pobreza no mundo. «A gente sabe que existem 700 milhões de pessoas no mundo vivendo abaixo da linha da pobreza. Mas, com a Covid 19, mais 500 milhões de pessoa podem viver abaixo dessa linha de pobreza. E isso nos incomoda. A COVID escancarou ainda mais as desigualdades, a falta de acesso a oportunidades e a qualidade de vida da população de baixa renda. Por isso, precisamos de uma abordagem sistêmica. É necessário muitos movimentos atuando juntos, para mudar essa situação e trazer uma nova economia social no Brasil», destacou.
Durante a fala, Célia apresentou como se estrutura o ecossistema de negócios de impacto socioambiental e como o ICE atua nesse campo. Ela apresentou o trabalho realizado pelo ICE de estruturar nove recomendações para avanços de investimentos e negócios de impacto até 2025. São elas: Fomento a dinamizadores de impacto; Ecossistemas locais de impacto; Contabilidade de impacto; Portfólios de Impacto; Grandes empresas dinamizam impacto; Negócios de impacto em territórios vulnerabilizados; Conexão com negócios ambientais; Tecnologias para impacto; e Comunicação para impacto.
A partir das recomendações, a diretora executiva do ICE falou sobre a necessidade de “atrair um novo capital para financiar soluções que resolvam problemas sociais e ambientais” estimulando, por exemplo, grandes empresas a trazerem estes negócios para a sua cadeia de valor. Ela ressaltou a importância de “fortalecer negócios de impacto em territórios vulnerabilizados” estimulando o empreendedor para resolver problemas na lógica de quem nasce nesses territórios.
Seguindo a perspectiva de pensar a consolidação institucional dessa nova economia, Lucas Ramalho Maciel, coordenador da ENIMPACTO, iniciou sua fala esclarecendo que participava do evento como um representante do Estado e não de governos, evidenciando a necessidade de pensar em políticas públicas que servem ao Estado e não apenas a governos, que são transitórios. Ressaltou que o Papa Francisco “está entre as lideranças mundiais no campo das lutas sociais e ambientais”.
Refletindo sobre a complexidade das raízes de nossos maiores gargalos institucionais, Lucas apresentou sua percepção sobre a genealogia dos desafios que temos para implementar esse sistema econômico proposto por Papa Francisco: «quando se fala em economia mais justa, eu penso em se corrigir as falhas de mercado. No problema de 1% da população detendo a riqueza. Penso no papel redistributivo que o Estado deveria exercer. No pressuposto fundamental de que, em tese, quem tem mais deveria pagar mais. Penso em impostos progressivos, por exemplo, taxação de grandes fortunas, imposto sobre heranças, tributar mais o patrimônio e muito menos o consumo».
Quando se fala de uma economia mais inclusiva, ele refletiu sobre “a necessidade de inserir populações que, historicamente, estão em posições menos privilegiadas”. O coordenador do ENIMPACTO citou negros, indígenas, quilombolas, imigrantes, pessoas com deficiência, mulheres, a necessidade de fortalecer a saúde e educação, os programas de transferência de renda, além de políticas de cota, raça e deficiência.
«Já sobre a economia regenerativa, eu penso sobre a forma leviana e irresponsável como a gente tem tratado a mãe terra, na necessidade de termos incentivos às energias limpas e renováveis, na importâncias das políticas de saneamento e tratamento de resíduos sólidos, nos incentivos à coleta seletiva e reciclagem, a produção descentralizada de energia eólica e solar nas residências, na necessidade de incentivo à pesquisa e desenvolvimento».
Lucas ressaltou ainda que o comportamento do Papa deve servir de inspiração para todos, sempre colocando o ser humano no centro do debate, em especial os mais pobres e vulneráveis.
Marcel Fukayama, diretor-executivo do Sistema B Internacional, iniciou falando que precisamos «ter fé num outro país possível, esperança que isso pode acontecer porque já está acontecendo e amor pelo bem comum». Ele lembrou que «a América Latina e Caribe é, em disparado, a região mais afetada pela pandemia do coronavírus. Perdemos mais de 300 mil vidas, temos mais de 8 milhões de casos reportados. Segundo a Organização Mundial do Trabalho, já são mais de 34 milhões de empregos perdidos na América Latina e Caribe. Só no Brasil já mais de oito milhões. Ao mesmo tempo, os bilionários do Brasil aumentaram nesse período».
Marcel entende que para realizar a retomada econômica é preciso mobilizar atores de mercado. «O setor privado precisa protagonizar essa retomada, mas o estado tem um papel fundamental com políticas públicas que podem construir um arcabouço institucional». Ainda pensando nessa agenda de retomada, ele compartilhou a experiência do GITRE (Grupo Internacional de Trabalho para a Reativação Econômica de Impacto). «Nesse espaço temos mais de 600 pessoas de 16 países de toda a América Latina trabalhando respostas para a pandemia em direção a agenda de 2030. Fizemos um mapeamento de mais de 40 políticas públicas no mundo em resposta à Covid, em direção a uma economia de impacto».
Perante às experiências do GITRE, Marcel apontou as três propostas de políticas públicas que o grupo apresenta. A primeira é regionalizar a experiência da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (ENIMPACTO). A segunda é a Lei BIC, para que as empresas possam se comportar com propósito, responsabilidade e transparência. A última, é a proposta de compras públicas de triplo impacto, visto que essas compras, na América Latina, representam mais de 15% do PIB da região.
OPEN SPACE
Com o objetivo de gerar protagonismo, encontros e parcerias entre os participantes do encontro, a programação trouxe também a Tecnologia do Espaço Aberto (Open Space), uma forma de organizar encontros, conferências ou reuniões que permite que os participantes se auto-organizem, criando e administrando a própria agenda de forma coletiva, equilibrando paixão e responsabilidade, com a possibilidade de transitarem livremente entre os diversos temas propostos.
O evento foi finalizado com a participação especial de Pedro Tarak, líder sênior de Pontes Globais no Sistema B International e cofundador do Sistema B, por Célia Cruz, diretora executiva do ICE e Maria Helena Faller, presidente da Anpecom.
O discurso apaixonado de Tarak lembrou que o ser humano não nasce só. Cada pessoa e cada organização tem sua função, sua vocação e o poder de se complementar. O cofundador do Sistema B contou sobre seu sonho para o mundo: «que possamos sentir empatia por qualquer pessoa e possamos abrir o mercado para qualquer pessoa».
Ele ainda completou «temos que nos emocionar muito, porque quando estamos emocionados nos conectamos, (…) somos protagonistas da causa social». Por fim, terminou de forma inspiradora «que todos nós possamos transcender e daqui a cem anos, vamos deixar de presente uma terra já regenerada e unida».
Célia Cruz celebrou a parceria entre o ICE, o Sistema B e a Anpecom e fez um pedido. «Que todos nós participantes deste evento nos sintamos aliados porque representamos várias pessoas e instituições, mas também alinhados pela Economia de Francisco». Ela falou ainda que este movimento sai muito mais forte dos dois dias de evento. «A gente se une para que possamos trazer as mesmas oportunidades para as pessoas, reduzir a desigualdade e conseguir valorizar a diversidade de opiniões que a gente tem», frisou.
Célia lembrou também de um chamado de Francisco. «O papa fala muito de uma abordagem integral que integre, entre si, sistemas naturais e sociais, e que precisamos encontrar soluções para a crise socioambiental». Ela completou falando da ligação entre o social e o ambiental. «Eles são indissociáveis nessa casa comum, nesse planeta que tem limites».
Concluindo o evento, Maria Helena recordou a audiência do Papa com lideranças da Economia de Comunhão de vários continentes. «Nós estivemos com o Papa, em 2017. Lá foi a semente para o Economia de Francisco. Eu me lembro da sensação que eu experimentei naquela sala do Vaticano e pensei o quanto a gente tem o mundo inteiro com tanta inteligência. Ali, eu me perguntei porque não estamos trabalhando juntos com toda esta inteligência para uma mesma causa? E hoje vemos este evento construído pelo ICE, Sistema B e Anpecom de forma orgânica. Juntos nos inserimos neste movimento global que é a Economia de Francisco», frisou.
Os dois dias de programação foram encerrados, portanto, com uma convicção de esperança, mapeado no início da tarde em uma nuvem de palavras, que se confirmou ao longo do dia e, com o pacto, deve se estender por muito tempo e se espalhar por muitos lugares.
O compromisso com o Pacto Global, que deverá ser assinado fisicamente em novembro de 2021 diante do Papa e todas as lideranças do mundo, deverá circular nos próximos meses nas nossas redes sociais. Todos são convidados a endossá-lo, clicando aqui!
Caso você queira rever o encontro, basta clicar AQUI!