Negócio de impacto com modelo inovador capacita e qualifica jovens periféricos para o mercado de trabalho em tecnologia
por Cibele Lana
fonte: revista Cidade Nova, Nº09/2023
Quando a câmera abriu e a entrevista começou, vi do outro lado uma mulher negra, de sorriso largo e que, logo em seguida, me fez escutar o áudio de uma reunião que acontecia simultaneamente em sua tela do computador.
“Está ouvindo, Cibele? Neste momento, tenho 49 mulheres iniciando um ciclo novo para aprender tecnologia”, disse, toda orgulhosa.
O nome dela é Zoraide Gomes, 51, mas é conhecida mesmo como Cris dos Prazeres, em referência ao Morro dos Prazeres, a comunidade no Rio de Janeiro onde ela foi criada.
Desde muito jovem, Cris é envolvida com empreendedorismo comunitário. Foi “moldada” e acolhida por muitas outras mulheres e, hoje, tem como uma verdadeira missão de vida não permitir que outras passem pelo que ela passou.
“Quero conectar o conhecimento a mulheres que nunca pensaram em adentrar esse universo (da tecnologia)”, explica.
Tudo começou com um projeto, ousado para a época, de prevenção da violência contra a mulher, o qual desenvolvia soluções locais e ganhou destaque especialmente pelo trabalho junto a grupos soropositivos, sendo, inclusive, replicado em diversas comunidades do Rio. Depois, em 2010, um grande temporal atingiu a região, deixando um rastro de destruição e mortes. Cris logo se atentou que “a questão climática está ligada ao comportamento humano” e ali nasceu a ideia de outra iniciativa de sucesso, a ReciclaAção, uma plataforma ambiental.
Já reconhecida na região por seu trabalho com empreendedorismo de base comunitária, Cris foi procurada em 2016 por uma empresa de tecnologia que almejava ter um “braço” social. Juntas, gestaram a ideia de levar qualificação profissional e capacitação em tecnologia para meninos e meninas em situação de vulnerabilidade e, assim, gerar mão de obra especializada para esse mercado. Logo na primeira iniciativa, “descobrimos que tínhamos um grande celeiro de talentos”, lembra.
SERVIÇOS E ESTRUTURA
A escola de tecnologia nasceu em janeiro de 2017, e Cris conta que, em maio, a escola já contava com jovens programando e ganhando dinheiro.
“Para programar, eles precisam estudar mais matemática e liderança técnica. E isso é ótimo.”
Atualmente, o Vai na Web é constituído por uma escola de tecnologia e um estúdio de criação. A escola é 100% gratuita, com quatro espaços presenciais para jovens que não têm computador em casa – Morro dos Prazeres, Alemão, Rocinha, no Rio de Janeiro, e Paraisópolis, em São Paulo – e cursos on-line com duração de sete meses.
“Aqui na escola a gente capacita o humano e qualifica o profissional. Não adianta ter talento se não tiver postura”, comenta.
Além de aulas técnicas às segundas, quartas e sextas, os cursos compreendem também capacitações em soft skills (habilidades comportamentais), com um time de psicólogos que trabalham a inteligência emocional.
“Além de ensinar tecnologia, ensinamos cidadania plena. Mudamos esses jovens tirando-os da bolha da violência, da escassez”, completa.
O estúdio de criação é a fonte de renda que mantém a escola. Os alunos, depois de formados, podem trabalhar no Vai na Web compondo squads (times) que atenderão clientes reais, com exigências reais do mercado. Eles desenvolvem serviços de acordo com as demandas de parceiros como o Grupo Sírio-Libanês, um dos clientes importantes do Vai na Web. E ainda contam com mentores que os acompanham de três a seis meses, para que entendam o mercado da Tecnologia da Informação (TI).
O Vai na Web atende meninos e meninas, com prioridade para elas e cuja família tenha renda per capita de até 3 salários-mínimos, moradores de comunidades, periferias, áreas rurais, quilombolas, refugiados, imigrantes e comunidade LGBTQIAPN+.
“Hoje, o Vai na Web tem jovens em mais de 150 empresas. Temos alunos que são líderes técnicos em bancos. Não sabiam nada e ascenderam de uma forma extraordinária. Isso desmistifica aquela coisa do menino negro, pobre”, comemora Cris.
“Depois que eu conheci o Vai na Web, pude ver as coisas de forma diferente. Junto com a equipe, tive esse melhor direcionamento no meu aprendizado. Tive essa constante evolução, com a equipe ajudando, apoiando, fazendo acontecer na parte prática e teórica. E tudo isso agregou bastante nas minhas habilidades”, conta Kleber Matos, morador da Rocinha de 21 anos que começou a estudar no Vai na Web e logo se tornou um colaborador no estúdio de criação.
Os negócios de impacto são organizações que se mantêm financeiramente independentes com base nos seus produtos e serviços e, ao mesmo tempo, têm como objetivo a resolução de um problema social ou ambiental.
O Vai na Web é uma dessas iniciativas. Os serviços oferecidos são: designer, desenvolvedor front-end, product owner, desenvolvedor back-end, scrum master, teste e qualidade.
Para saber mais ou contratar os serviços de tecnologia, acesse: www.vainaweb.com.br/.