Consegue-se escapar das armadilhas da pobreza quando se consegue dar, ou seja, quando, no contexto de um relacionamento, sou colocado em condições de poder dar algo a alguém.
Por Luigino Bruni
publicado na revista Città Nuova n.10/2019
Neste verão, fui visitar a bela catedral de Salerno. Na entrada, encontro um jovem que simplesmente pede esmola. Espontaneamente, digo a ele: "Porque você não dá alguma informação sobre a igreja aos turistas, já que você está aqui o dia inteiro?" Naquele momento, ele não me responde. Dei uma volta (um pouco apressado) e enquanto passo novamente perto dele, me diz: "Mas você não vai ver a Cripta? Se você não for vê-la, vai perder a coisa mais linda da igreja". Ele, por causa da minha pergunta, seguiu-me com o seu olhar e observou os meus passos.
Agradeço, volto atrás e vou visitar a cripta, que me deixa sem fôlego pela sua beleza. Saindo da igreja, agradeço novamente e dou para ele uma gorjeta. Enquanto o cumprimentei, ele continuou dizendo: «Olhe para a entrada: ali tem uma escultura importante»; «E depois, veja também a porta, foi feita em Constantinopla», e ainda mais informações sobre a igreja, que ele aprendeu escutando silenciosamente os inúmeros guias que passam por ali.
E me perguntei: quem sabe se fui o primeiro a pedir alguma coisa diferente para esse jovem, a ter consideração por ele, a convidá-lo a se colocar em uma lógica de reciprocidade. Imagino os seus pensamentos: «Esse desconhecido senhor, pedindo-me alguma informação, não me vê apenas como um "pedaço de lixo", não me viu como alguém que só sabe estender as mãos. Ele me fez uma pergunta como se eu fosse uma "pessoa"». Na verdade, a única coisa que fiz foi olhar para um ser humano que estava à minha frente, estar atento à vida que passava ao meu lado e reconhê-la como se apresentava a mim: no rosto de um jovem imigrante, que percebi que poderia ser algo diferente daquilo que ele me mostrava. E entendi que aquele jovem era muito maior do que o seu pedido de esmola. Mas talvez, nem ele mesmo se lembrasse disso, porque estava acostumado apenas a pedir moedas.
E então pensei em quanta reciprocidade não expressa existe na nossa cidade e, em geral, no grande tema da pobreza e da marginalidade. As pessoas para se ativarem precisam ser vistas, olhadas nos olhos. Sem esse olhar de reconhecimento, as pessoas não se levantam, sobretudo quando estão "sentadas" há anos. Raramente nos levantamos sozinhos. Nos levantamos se, no relacionamento com alguém, percebemos que também nós temos algo para dar.
Um dos problemas relacionados com a pobreza é pensar que a solução tem a ver com o receber. Em vez disso, consegue-se escapar das armadilhas da pobreza quando se consegue dar, ou seja, quando, no contexto de um relacionamento, sou colocado em condições de poder dar algo a alguém. A verdadeira ajuda que podemos dar para uma pessoa pobre é a possibilidade de sentir-se digno de dar alguma coisa. Mas nós continuamos a olhar as mãos de quem pede como as mãos de quem sabe apenas receber, e esquecemos que aquelas mãos podem dar muito mais do que podem receber.
Diante das pessoas que se encontram em condições de indigência, os esforços do governo e das associações deveriam concentrar-se, acima de tudo, em ajudar essas pessoas a se levantarem para voltarem a dar dentro de relações de reciprocidade. Mas antes, eles precisam olhá-las como pessoas que têm algo para dar, que não são tão pobres que não possam dar nada.
Se eu não tivesse encontrado aquele homem no limiar da igreja, se entrando naquele lugar sagrado não tivesse entendido que naquela porta havia algo mais sagrado do que o templo que eu estava prestes a visitar (nada na terra é mais sagrado do que o homem), eu não teria visto o tesouro daquela igreja (a cripta), eu não teria encontrado uma pessoa e não teria escrito este artigo. Mas antes, eu tive que vê-lo. A primeira pobreza dos pobres consiste em não serem vistos, tornam-se invisíveis ou vistos apenas superficialmente, porque nos detemos no invólucro das suas almas. Quem sabe quantas lindíssimas "criptas" perdemos todos os dias?!