Iniciativa do Centro Cultural Mamulengo é apoiada pela premiação Jovem de Impacto:eu sou! 2023/2024 da Economia de Comunhão
fonte: edc Brasil
O olhar de um homem comprometido com sua comunidade transformou a trajetória de Natan (28) para sempre. Natan Jesus da Silva é um arte-educador da comunidade de São Tomé de Paripe, último bairro do subúrbio ferroviário de Salvador (BA).
Quando criança, sua vida era escola, casa e igreja. E se perguntasse para ele o que gostaria de estudar no futuro, devolveria com uma pergunta: estudar?
Mas essa história teve um revés.
Natan foi aluno da 1º oficina de confecção de bonecos do Centro Cultural Mamulengo (CCM), fundado por Elias Bonfim, Mestre Griô e educador social, em 2007, numa área de ocupação do Movimento Sem Teto da Bahia. Sua nova trajetória começou aí e mal sabia ele que anos mais tarde estaria à frente do CCM, trabalhando e aprovando editais para perpetuar a herança de mestre Elias em São Tomé.
Em 2024, seu novo projeto “Experimento cênico-pedagógico – São Tomé: uma história e meia” foi vencedor do 3º lugar da premiação “Jovem de Impacto: eu sou!”, promovida pela Economia de Comunhão.
E é sobre este projeto – e como ele transformará sua comunidade – que vamos conhecer hoje.
Experimento cênico-pedagógico – São Tomé: uma história e meia
Este nome grande revela o quão longe Natan e sua equipe desejam chegar. Mas o longe não é, necessariamente, geográfico. Mas sim, na profundidade da transformação social, cultural e ambiental que as crianças e os adolescentes do projeto são capazes de gerar no território de São Tomé de Paripe.
O projeto “Experimento cênico-pedagógico – São Tomé: uma história e meia” é uma oficina de Teatro de Bonecos, tradição reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN e iniciada por mestre Elias na comunidade em 2007.
“Elias pegou uns pedaços de madeira e lona e escreveu numa placa de madeira: Centro Cultural Mamulengo. Aquele espaço se tornou o centro das lideranças comunitárias e, ao mesmo tempo, a escola de oficinas de bonecos para 30 crianças e adolescentes – dentre elas, eu! ”, narra Natan.
Dali em diante, o CCM passou por reformas, por paradas – devido ao intenso confronto entre o tráfico de drogas e as ações truculentas da polícia local – e retomou com o desejo de Natan e de outros profissionais transformados pela arte.
“Um dia alguém se importou comigo e eu precisava devolver isso que me deram. Como? Multiplicando a arte para os meus”.
O primeiro evento de retomada foi o I Festival Odara de São Tomé do Paripe, inspirado nos tradicionais festivais baianos de valorização da Beleza Negra e celebrado durante o Dia da Consciência Negra. Entre os dias 29 e 30 de novembro, realizaram uma roda de conversa com mulheres empreendedoras, feira de economia criativa, concurso e muitas atrações culturais, dentre elas a oficina de Bonecos Identitários, onde cada participante constrói um boneco à sua imagem.
Poucos meses depois do festival, veio a pandemia.
Mesmo de casa, o CCM não parou e manteve o contato com a comunidade. E foi neste momento que decidiram tirar uma ideia do papel.
Todas as vezes que pesquisavam na internet dados de São Tomé, encontravam informações apenas sobre suas belas praias. De fato, são belas, mas buscavam mais. Decidiram então mudar este cenário elaborando uma pesquisa com a comunidade local para mapear saberes e fazeres, manifestações culturais e artísticas herdadas das matrizes da comunidade.
O resultado? A pesquisa recolheu inúmeras histórias da comunidade, do litoral ao interior, do quilombola ao indígena, das rezadeiras aos pescadores nativos, desde a origem da ocupação até os dias de hoje.
E aqui entra o “São Tomé: uma história e meia”: com essa riqueza de saberes escreveram uma história para um Teatro de Bonecos que conscientiza a população sobre a importância de preservar todo o seu território.
A história será contada pelos 6 alunos e alunas das oficinas de bonecos, com idades entre 12 e 18 anos, nas escolas e centros sociais do território. Segundo Natan, o grupo pequeno possibilita uma atenção maior a cada aluno e aluna, assim cada pessoa ali é valorizada e reconhecida. “Não são números, são nomes”.
E por que “Experimento cênico-pedagógico”? Natan explica que as apresentações são verdadeiros experimentos, porque os enredos não estão fechados.
“Os desfechos serão narrados pelos próprios alunos e alunas contando, sem os bonecos, quem eles são e como estão construindo o São Tomé de hoje, inspirando outros jovens a construírem um São Tomé que conhece e valoriza sua origem”.
O projeto “Experimento cênico-pedagógico – São Tomé: uma história e meia” foi o 3º vencedor da premiação Jovem de Impacto: eu sou! 2023/2024. Ele ganhou uma menção honrosa da Economia de Comunhão e a participação do Fundo Desafio: a cada real captado pelo Centro Cultural Mamulengo, a edc duplicará o valor até o montante de R$2 mil.
Faça parte do Fundo Desafio e colabore para a preservação e valorização do território de São Tomé de Paripe.