Uma ideia inovadora nascida durante a pandemia levou ao desenvolvimento de um aplicativo social que vem combatendo a fome e gerando oportunidades de desenvolvimento para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Conheça o Akiposso+
por Cibele Lana
publicado na revista Cidade Nova - Dez/2022
A STARTUP de tecnologia social Akiposso+ vem ganhando destaque na mídia por ter desenvolvido um aplicativo que coloca a tecnologia para trabalhar pela geração de renda, pela capacitação profissional e pela saúde e bem-estar de famílias em situação de vulnerabilidade social em diversas comunidades da região metropolitana de São Paulo.
A plataforma conecta 50 empresas parceiras, incluindo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), e cerca de 100 ONGs que oferecem vagas de trabalho, cursos de capacitação, na área de esportes, para desenvolver o próprio negócio, e outras oportunidades em um só lugar, de forma fácil, com linguagem e usabilidade acessíveis, e com pessoas que buscam oportunidades como essas.
Apesar de estar disponível na Apple Store e Google Play, o app também pode ser aberto no navegador de internet e, assim, não ocupa memória no celular.
Tudo começou em 2020, durante os primeiros meses da pandemia, quando nosso país foi tomado por uma “onda” de solidariedade. Foi justamente nesse período que um grupo aproveitou o seu extenso networking para mobilizar doações para comunidades periféricas de São Paulo.
A pedido de um investidor social, esse primeiro grupo realizou um trabalho de mapeamento para entender a “fotografia” socioeconômica dessas comunidades.
“Vimos, durante esse trabalho, que além de retirar da fila da fome, precisávamos democratizar o acesso às oportunidades, pois é isso o que faz a pessoa se desenvolver. Enquanto distribuíamos as doações com base no mapeamento, iniciamos o desenvolvimento de um aplicativo social, que foi lançado no ano passado”, explicou Priya Patel, diretora de operações da startup Akiposso+.
O aplicativo funciona da seguinte forma: ao receber um cadastro de uma pessoa em situação de vulnerabilidade, a equipe do Akiposso+ procura entender o que a família precisa, começando pelo combate à fome.
“Após uma triagem, entregamos cestas básicas ao longo de quatro meses para que a pessoa possa ficar mais tranquila. Atualmente, 300 famílias recebem essas cestas”, diz Patel.
Depois, no acompanhamento da pessoa, identifica-se se ela ou família precisam de emprego ou capacitação e, então, é auxiliada a alcançar seus objetivos por meio do aplicativo.
Atualmente, são 30 mil pessoas na base de dados do app e 13 mil usando-o ativamente. Patel destaca que 80% dos usuários declaram não ter renda, cerca de 80% das pessoas são mulheres e, dessas, 20% são mães solo, chefes de família. Análises sobre o uso revelam que 50% dos pedidos de oportunidades são para vagas de trabalho, 30% para cursos e outros 20% destinados aos outros serviços. A diretora também comemora as mais de 117 mil pessoas impactadas indiretamente em pouco mais de um ano de funcionamento do app social.
Dados, de fato, são um diferencial para o aplicativo social.
“São eles que nos ajudam a entender a pessoa, a família. Toda a riqueza está nos dados, já que por meio deles consigo olhar meu público e segmentar suas necessidades para buscar parceiros. Isso é muito importante”, explica a diretora do Akiposso+.
"FORÇAR PARA O BEM"
Perguntada sobre os desafios de acesso às novas tecnologias pelas comunidades mais periféricas, Patel lembra que existe pelo menos um celular por família.
“Se queremos trabalhar a inclusão social e a redução das desigualdades, isso tem que passar pela inclusão digital e pela cultura digital”, afirma, no sentido de que “forçar” para o bem o uso da tecnologia ajuda a incluir as pessoas nessa nova era.
Para auxiliar quem tem dificuldade de acesso, cada comunidade onde a startup atua conta com a ajuda de “anjos”, geralmente jovens ou pessoas ligadas às ONGs que assessoram no cadastro e uso do aplicativo.
Mirlei Souza Fernandes mora no Jardim São Luiz (SP) e relata uma verdadeira mudança de vida com o uso do app social e o apoio da startup.
“Durante a pandemia, meu esposo ficou desempregado e eu não estava trabalhando. Não tínhamos nenhuma renda. Baixei o aplicativo e comecei a fazer cursos de manicure, sobrancelha e outros. Não tive nenhuma dificuldade. Por meio do app conheci ONGs que ofereciam atividades para minhas filhas. Isso me instigou a voltar e estudar”, disse a jovem, que prestou vestibular para pedagogia e espera entrar em uma universidade.
A startup, para 2023, tem como objetivo alcançar a sustentabilidade financeira por intermédio de parcerias com empresas privadas e ampliar sua atuação para o território nacional. E segue rumo a uma meta muito mais desafiadora e ao mesmo tempo cheia de propósito: retirar um milhão de pessoas da fila da fome até 2025.