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Emirados Árabes: quando o trabalho se torna desenvolvimento humano

O empresário EdC de Dubai, Abdullah Al Atrash é o primeiro protagonista do ciclo de histórias que o Vatican News dedicará às várias iniciativas que floresceram no mundo, ligadas à Laudato si’ do Papa Francisco.

por Giada Aquilino

publicado no  Vatican News em 20/10/2020

No ano especial dedicado ao aprofundamento dos princípios da encíclica, encontramos nos Emirados Árabes Unidos, Abdullah Al Atrash, um jovem empresário italiano-sírio. Como não adepto de uma religião, ele aderiu à Economia de Comunhão do Movimento dos Focolares. Na empresa que administra, ele emprega principalmente imigrantes asiáticos e africanos, garantindo um salário e assistência social, adotando meios que proporcionem máxima segurança para os funcionários e para o meio ambiente, mesmo neste momento de pandemia.

MAS Paints Comunità 02 ridSão paquistaneses, indianos, nepaleses, filipinos e até mesmo nigerianos, camaroneses e senegaleses. Em comum, eles têm um passado de grande pobreza - que os obrigou a deixar a própria pátria e família para emigrar - e um presente que tenta mantê-los longe da exploração e de novas dificuldades. Eles são muitos dos 212 funcionários da Mas Paints, uma fábrica de tintas para madeira e paredes, fundada em 1989 na Itália e presente desde 2000 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, um país onde - em comparação com cerca de 10 milhões de habitantes - 9 em cada 10 pessoas são de origem estrangeira. Abdullah Al Atrash é aquele que conta ao Vaticano News sobre esses "colegas e amigos da empresa", ele o gerente geral da empresa fundada pelo pai e pelo tio. Ao ouvir esse jovem empresário italiano-sírio de 42 anos, formado em economia e comércio pela Universidade de Ancona e mestre pelo Instituto Adriano Olivetti na capital da região das Marcas, vem em mente a reflexão sobre a questão do trabalho, contida na encíclica Laudato si' do Papa Francisco, que leva o Pontífice a destacar como é "necessário para a vida", "para uma parte do sentido da vida nesta terra, um caminho de amadurecimento, desenvolvimento humano e realização pessoal".

A outra pessoa

Qualquer forma de trabalho - o Papa ainda destaca - pressupõe uma ideia da relação que o ser humano pode ou deve estabelecer com o outro por si só". Chegando em Dubai em 2005, Abdullah observou, estudou e, em certo sentido, fez do mundo dos trabalhadores imigrantes o seu. "Foi um trauma para mim ver como essas pessoas vivem". Todos aqueles que vão de países pobres para trabalhar em outros estados, sejam eles quais forem, têm que mandar muito dinheiro para casa para conseguir sustentar um número muito grande de parentes, porque todos eles têm um sistema familiar estendido, no sentido de que também ajudam pais, irmãos, primos... Fiz então um cálculo segundo o qual - explica ele - em média cada uma dessas pessoas tem que sustentar outras 10 e isso não só do ponto de vista do dinheiro necessário para fazer as compras, mas do ponto de vista do dinheiro que realmente faz a diferença entre a vida e a morte, porque em muitos desses países não existe um Estado social, por várias razões: grande pobreza, guerra, instabilidade política, tensões étnicas ou religiosas. Essas pessoas geralmente trabalham longas horas, de trabalho duro, com salários muito baixos. Já vi casos de pessoas que trabalham na construção civil e ganham até 860-990 reais por mês, privando-se de tudo para mandar dinheiro para casa".

Uma cultura de reciprocidade

MAS Paints Lavoratori ridEm sua Carta Encíclica de 2015, o Pontífice aponta como o "ajudar os pobres com dinheiro" pode ser um "remédio temporário para emergências": o "verdadeiro objetivo" - esclarece - deve ser sempre permitir-lhes "uma vida digna através do trabalho". Ateu, casado com uma mulher católica e pai de dois filhos, Abdullah compartilha com a sua esposa Manuela, a experiência do Movimento dos Focolares e as iniciativas da Economia de Comunhão, lançadas em 1991 por Chiara Lubich com o objetivo de promover uma cultura econômica baseada na reciprocidade, propondo e vivendo um estilo de vida alternativo ao dominante do sistema capitalista.

Um caminho de vida, o do empresário italiano-sírio, que o levou a "ter em mente os custos de vida e o mundo em que vivem esses imigrantes, adotando medidas concretas para os trabalhadores de sua empresa. Não foi fácil, confessa ele, mas "eu multipliquei por 5 um salário básico para que eles pudessem ter uma vida absolutamente digna". E decidi pagar, não apenas ao funcionário, mas a toda a família 'estendida', despesas médicas de qualquer tipo e aquelas para a educação de seus filhos, amparando-os em seus estudos até a universidade - porque sem educação, dificilmente encontrariam um trabalho".

Um bem comum

O valor predominante parece ser, portanto, aquele capital social que é o conjunto das relações de confiança, de confiabilidade e de respeito às regras indispensáveis a toda a convivência civil, como assinala Francisco em sua encíclica, citando a Cáritas in Veritate de Bento XVI. Abdullah nos diz ter "criado um fundo, que é retirado dos lucros", para ajudar ainda mais os trabalhadores. "O lucro da empresa - ele enfatiza - deve, na minha opinião, ser usado tanto para investir na empresa - para que ela possa crescer, e obviamente para as necessidades dos proprietários-, mas também deve ir em igual medida para os funcionários da empresa. Na verdade, isso se trata de um bem comum: uma empresa pertence a todos, porque todos trabalham nela, logo, ela devem servir a todos".

"Em um certo momento - continua - percebi que entre os funcionários, além dessas necessidades, havia também o problema da moradia. Entendi isso conversando com as pessoas, pois queria estabelecer uma relação humana com elas e não apenas uma relação de trabalho, então conversávamos sobre mim e sobre elas, sobre as nossas vidas. Isso é comunidade. E isso me fez entender que, para construir uma casa em seus países de origem, elas tinham duas alternativas: ou tentar emprestar dinheiro dos bancos, mas os bancos não emprestam dinheiro aos pobres, ou - e para mim foi doloroso saber disso – procurar os agiotas, pratica muito difundida nesses países, fazendo com que elas fizessem enormes sacrifícios para devolver o dinheiro, levando anos para isso. Então comecei a tentar entender por quantas pessoas as famílias eram compostas e onde elas gostariam de construir as suas casas e, calculando a quantia necessária, fornecemos um empréstimo, que poderia ser devolvido livremente ao longo do tempo e de acordo com as possibilidades de cada um. Para soma emprestada adotamos a taxa zero, mesmo que a taxa zero não exista porque sempre há inflação, especialmente em certos países".

Uma produção que respeite o meio ambiente

MAS Paints Lavoratori 2 ridDurante esse ano especial até 24 de maio de 2021, período no qual o Papa Francisco chamou todos a refletir sobre a encíclica Laudato sì, perguntamos a Abdullah como a sua empresa procura responder ao desafio urgente de proteger a "casa comum". "Produzimos algumas tintas que são absolutamente não tóxicas, portanto não prejudiciais e não poluentes. Depois temos outras linhas de produtos que são necessariamente tóxicos, por exemplo, os solventes, que também são amplamente utilizados no campo farmacêutico. O importante é que eles não danifiquem o meio ambiente, porque o meio ambiente somos nós: o Papa nos lembra disso o tempo todo. Eu, como ateu, entendo que o meio ambiente é tudo aquilo que vive". "Por isso, na empresa - continua - temos como objetivo protege o trabalhador, para que a sua saúde seja 100% protegida, investindo na sua segurança, em máscaras, sistemas de ventilação e máquinas que não liberem substâncias como solventes. No que diz respeito aos resíduos, investimos pesado em máquinas que separam os resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Posteriormente, as empresas públicas, do governo, recolhem tais resíduos, levando-os para locais apropriados e adequados para o descarte, evitando que poluam o meio ambiente. Porque debaixo de nós está o mar: quando cavamos um pouco debaixo da fábrica, encontramos o mar".

A pandemia

Na emergência global do coronavírus, as preocupações com as condições dos trabalhadores aumentaram. "A onda que chegou aqui - lembra Abdullah - foi muito forte, atingiu o Irã, Kuwait, Arábia Saudita e todos os países ao nosso redor. O período mais difícil, com fechamento total, foi entre março e abril. Quando saíram as primeiras notícias sobre o vírus, preparamos medidas, tais como a adoção de barreiras de vidro para os funcionários, semelhantes aos espaços adotados para os balcões bancários, uso de máscaras cirúrgicas, medição da temperatura corporal, respeito à distância de segurança de dois metros, tampões para todos os funcionários e coordenação diária com o Ministério da Saúde local. Além disso, aluguei cerca de trinta estúdios para o cumprimento da quarentena com segurança".

Um encontro de convivência

O que é impressionante é a palavra "convivência " que retorna várias vezes na conversa com Abdullah, mesmo quando ele se lembra de ter participado, no início de 2019, da Missa do Papa em Abu Dhabi, por ocasião da viagem de Francisco aos Emirados Árabes Unidos, já sob a bandeira daquela fraternidade e amizade social da qual o Pontífice fala hoje em Fratelli tutti.

"Uma experiência magnífica, fui com alguns dos meus colegas e amigos do Movimento dos Focolares. Havia muita gente, tanto que eu estava fora do estádio, no gramado, onde se podia acompanhar o evento através das telas gigantes. Notei que a grande maioria dos presentes eram católicos, mas também haviam 5.000 muçulmanos, bem como alguns grupos de budistas, hindus e sikhs. Eles transmitiam as imagens do abraço sincero com o Grande Imã de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyib. Foi um momento libertador, de encontro entre o mundo islâmico e o mundo ocidental, com o Papa que veio com grande humildade: ele agradeceu ao país, às autoridades, ao povo, no espírito de convivência, de paz e de tolerância. Ele quis nos dizer que estarmos todos juntos é possível".

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