Texto completo da mensagem em vídeo que o Papa Francisco enviou às e aos jovens que participaram do segundo evento mundial da "A Economia de Francisco", realizado no sábado, dia 2 de outubro e transmitido ao vivo do Palazzo Monte Frumentario em Assis.
Caras e caros jovens, eu os saúdo com carinho, prazer em conhecê-los - ainda que virtualmente - neste segundo evento de vocês. Nos últimos meses, ouvi muito sobre as experiências e iniciativas que vocês construíram juntos, e gostaria de agradecer o entusiasmo com o qual estão conduzindo esta missão de dar uma nova alma à economia.
A pandemia da Covid-19 não só nos revelou as profundas desigualdades que infectam as nossas sociedades: como as ampliou. Desde o surgimento de um vírus oriundo do mundo animal, nossas comunidades têm sofrido um grande aumento do desemprego, da pobreza, da desigualdade, da fome e da exclusão da assistência médica necessária. Não esqueçamos que alguns poucos aproveitaram a pandemia para se enriquecerem e se fecharem nas suas próprias realidades. Todo esse sofrimento recai desproporcionalmente sobre os nossos irmãos e irmãs mais pobres.
Nos últimos dois anos, temos sido confrontados com todas as nossas falhas em cuidar da nossa casa e família comum. Muitas vezes esquecemos a importância da cooperação humana e da solidariedade global; também esquecemos, muitas vezes, da existência de uma relação recíproca responsável entre nós e a natureza. A Terra nos precede e nos foi dada, e este é um elemento chave em nossa relação com os bens da Terra e, portanto, uma premissa fundamental para os nossos sistemas econômicos. Somos administradores e administradoras de bens, não proprietários. Apesar disso, a economia doentia que mata nasce do pressuposto de que somos donos da Criação, capazes de explorá-la para os nossos próprios interesses e para o nosso crescimento. A pandemia nos lembrou este vínculo profundo de reciprocidade; ela nos lembra que fomos chamados a cuidar dos bens que a Criação dá a todos e todas; nos lembra do nosso dever de trabalhar e distribuir esses bens para que ninguém seja excluído. Finalmente, também nos lembra que, imersos em um mar comum, devemos abraçar a necessidade de uma nova fraternidade. Este é um momento favorável para sentir novamente que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade uns para com os outros e para com o mundo.
A qualidade do desenvolvimento dos povos e da Terra depende acima de tudo dos bens comuns. É por isso que devemos buscar novas maneiras de regenerar a economia na era pós-Covid-19 para que seja mais justa, sustentável e solidária, ou seja, mais comum. Precisamos de processos mais circulares, para produzir e não desperdiçar os recursos da nossa Terra, formas mais justas de vender e distribuir os bens, e comportamentos mais responsáveis quando consumimos. Também é necessário um novo paradigma integral, capaz de formar novas gerações de economistas e empreendedores, respeitando nossa interconexão com a Terra. Vocês, na «Economia de Francisco», assim como em muitos outros grupos de jovens, estão trabalhando com o mesmo propósito. Vocês podem oferecer esta nova perspectiva e este exemplo de uma nova economia.
Hoje a nossa mãe Terra está gemendo e nos avisando que estamos nos aproximando de limiares perigosos. Talvez vocês sejam a última geração que pode nos salvar, e eu não estou exagerando. Diante desta emergência, a criatividade e a resiliência de vocês implicam em uma grande responsabilidade. Espero que vocês possam usar esses dons para corrigir os erros do passado e nos conduzir a uma nova economia que seja mais inclusiva, sustentável e solidária.
Esta missão da economia, entretanto, inclui a regeneração de todos os nossos sistemas sociais: incutindo os valores da fraternidade, da solidariedade, do cuidado com a nossa Terra e com os bens comuns em todas as nossas estruturas, seremos capazes de enfrentar os maiores desafios do nosso tempo, desde a fome e a desnutrição até a distribuição equitativa das vacinas contra a Covid-19. Devemos trabalhar juntos e ter grandes sonhos. Com o olhar fixo em Jesus, encontraremos a inspiração para projetar um novo mundo e a coragem de caminhar juntos em direção a um futuro melhor.
A vocês, jovens, eu renovo a tarefa de colocar a fraternidade de volta ao centro da economia. Nunca como agora sentimos a necessidade de jovens capazes, através do estudo e da prática, de demonstrar que existe uma economia diferente. Não desanimem: deixem-se guiar pelo amor do Evangelho, que é o trampolim para toda mudança e que nos impele a entrar nas feridas da história e as ressuscitar. Deixem-se lançar com criatividade na construção de novos tempos, sensíveis à voz dos pobres e empenhados em incluí-los na construção do nosso futuro comum. Nosso tempo, devido à importância e urgência da economia, precisa de uma nova geração de economistas que vivam o Evangelho nas empresas, nas escolas, nas fábricas, nos bancos e nos mercados. Sigam o testemunho daqueles novos comerciantes que Jesus não expulsa do templo, justo porque vocês são amigos dele e aliados de seu Reino.
Caras e caros jovens, façam emergir as ideias e os sonhos de vocês, e através deles tragam ao mundo, à Igreja e a outras e outros jovens a profecia e a beleza da qual vocês são capazes. Vocês não são o futuro, vocês são o presente. Um outro presente. O mundo precisa agora da coragem de vocês. Obrigado!
Francisco