EoF: histórias - A cooperativa Yomol A'tel, em Chiapas, México, é uma experiência enraizada no território há 12 anos. Um modelo de desenvolvimento inclusivo e uma forma concreta de reduzir os riscos de desmatamento.
por Maria Gaglione
publicado no site Avvenire em 30/11/2019
«Pensar e compartilhar estratégias para promover alternativas econômicas que o nosso mundo precisa desesperadamente». Alberto tem ideias muito claras. «Precisamos acionar um processo que reúna jovens de todo o mundo para cultivar a esperança de construir uma sociedade mais inclusiva, justa e sustentável». Alberto Irezabal Vilaclara é o CEO da Yomol A'tel, uma cooperativa de empresas sociais que, em uma das regiões mais pobres do México, estão engajadas no cultivo e produção de café e mel orgânicos, cosméticos, além de projetos de microfinanças. «Nosso modelo de negócios é um modelo que se concentra na diversidade cultural e faz do capital relacional sua principal força. E ainda, assume um foco especial sobre os mais vulneráveis e a custódia da nossa casa comum». Resiliência é uma palavra importante para Alberto. Ele o aprendeu trabalhando por mais de 12 anos ao lado das comunidades indígenas Tseltal-Maya na selva do norte de Chiapas. Povos resistentes, comunidades que amam a natureza e consideram a terra não como um bem a ser possuído, mas como um presente de Deus e dos ancestrais.
«Compartilhei com eles a luta para criar um sistema de produção de café, alternativo às abordagens que excluem as famílias do pequeno produtor, e junto com a missão jesuíta de Bachajón, conseguimos desenvolver toda a cadeia de valor do café orgânico. A construção de um preço justo para os produtores de café e mel permite que as famílias tenham uma renda estável, ao mesmo tempo em que reconhece a dignidade do trabalho dos agricultores e produtores locais. O engenheiro industrial com MBA em Economia Social nos lembra: O cultivo orgânico do café evita o uso de pesticidas e fertilizantes químicos».
Um dos aspectos mais importantes do café orgânico é, de fato, a sustentabilidade do seu cultivo. Nas plantações orgânicas, a planta do café cresce à sombra das árvores, garantindo a qualidade do solo e a preservação da floresta tropical.
«Se os pequenos produtores indígenas tiverem uma renda justa, continuarão a cultivar suas terras sem serem forçados a cedê-las a outros usos que exijam desmatamento, como frequentemente acontece». Alberto também leciona na Universidad Iberoamericana (Ibero), na Cidade do México, e desde 2015 faz o doutorado em Gestão Avançada de Organizações e Negócios Sociais.
Se, para Alberto, resiliência é uma palavra-chave, o segundo elemento essencial é o trabalho em rede. «Atingir nossos objetivos (sustentabilidade e inclusão) exigiu o envolvimento das outras partes interessadas. Universidades, fundações e outras empresas. Somos membros da Comparte, uma rede de mais de 16 centros jesuítas na América Latina. Temos que ser, citando Santo Inácio, um fogo que acende outros fogos».
Antes de dizer adeus, Alberto nos dá um último detalhe. «Em nossas empresas, o processo de tomada de decisão ocorre de acordo com dois princípios fundamentais: o primeiro é representado pela cultura tseltal indígena, o outro é um processo participativo na tomada de decisão».
Alberto acredita que uma das chaves para o desenvolvimento de modelos de negócios inclusivos, que o nosso mundo precisa, está consagrada na visão do mundo dos povos indígenas. «Para que esses novos modelos surjam, conclui, precisamos promover o intercâmbio cultural de conhecimentos e práticas, global e localmente. Não o fazendo, o equilíbrio favorecerá os modelos de negócios predominantes que levam à exclusão e à dor das pessoas mais frágeis do planeta».