A 23ª edição da revista científica do Centro de Estudos SOUQ da Casa da Caridade é inteiramente dedicada ao tema da água. Abaixo a contribuição de Luigino Bruni.
por Luigino Bruni
Publicado em SOUQuaderni n. 23 de abril de 2021 em 23/04/2021
“Todos na Escritura morrem de sede, e o que é esta sede universal senão o próprio Deus sedento de si mesmo? Sempre pensei, desde que o aprendi, que morrer com este verso nos lábios seria um bom não morrer".
Léon Bloy, “Le symbolisme de l’Apparition”, 1880
A ambivalência de um grande símbolo
A Bíblia também pode ser contada como uma história sobre a água. A água é um de seus grandes símbolos. É seu alfa e ômega: a Bíblia abre com as águas do Gênesis e fecha, no último capítulo do Apocalipse, com um rio na cidade. E depois os rios Pisom, Tigre, Eufrates, Nilo, Jordão, depois Yaboq, Noé, Abraão, Ágar, Raquel, Moisés, Mara, a Batista, a mulher Samaritana, o Gólgota. Rios, poços, mulheres. A água e a vida, água é vida. Sempre e em qualquer lugar, especialmente naquelas regiões semiáridas do Oriente Médio.
Uma história que começa com o primeiro versículo do primeiro capítulo do primeiro livro da Bíblia, Gênesis: "O espírito de Deus pairava sobre as águas". Água, águas no plural, está entre as palavras mais recorrentes na criação do mundo - Deus separa as águas (as de baixo e as de cima do firmamento), depois as reúne nos mares para criar o seco, e finalmente ordena que as águas estejam "fervilhando" de peixes e vida. A água não é criada por Deus: ela é pré-existente. Deus-Elohim já a encontra no mundo, e a separa, a recolhe, a preenche, mas não a cria. Para o homem antigo, a água é tão antiga e pré-existente quanto o próprio Deus, que não pode prescindir da água para criar tudo o mais. A água é o elemento básico da vida, é o primeiro tijolo da cadeia dos seres vivos, é o ambiente onde ocorre a criação - hoje sabemos que provavelmente foi nas águas dos mares que se formaram as primeiras formas de vida.
Então a água é a grande protagonista da maravilhosa história de Noé e do Dilúvio, que o Gênesis tira do mito sumério de Gilgamesh. Aqui as águas não são boas, elas se tornam um instrumento que Deus usa para destruir os seres humanos que se tornaram maus. Mas apesar de nossa maldade, a vida continua, as águas recuam e a vida recomeça, com o sinal da primeira aliança entre Deus, Noé e os homens e animais salvos: o arco-íris, ainda uma questão de água.
Foi no vau noturno de um riacho, o Yaboq, onde ocorreu a luta entre Jacó/Jacob e o anjo de Deus (Gênesis 32), quando ele foi ferido no nervo ciático e abençoado, uma luta aquática onde Jacó/Jacob se tornou Israel, o nome de todo um povo.
E depois a água está no centro da libertação do Egito, a terra do grande rio, quando as águas do Mar Vermelho se abriram para permitir que Moisés e o povo hebreu deixassem o Egito em direção à terra prometida, a outro rio, o Jordão. E na passagem do grande rio da escravidão para o pequeno rio da liberdade, a seda e o milagre da água foram elementos e etapas essenciais (Massa e Meriba, as águas amargas de Mara). O exílio, a outra grande e tremenda experiência do povo (século VI a.C.), é contado com a imagem da água: ao longo dos rios da Babilônia, do Tigre e do Eufrates.
Os tremendos e mais temidos monstros do livro de Jó - o Leviatã e o Behemont (Jó, 40) - são monstros marinhos, habitantes das águas profundas. Aquele Leviatã que Thomas Hobbes tomará para dar o nome ao seu livro, imagem do poder político absoluto que permite, no entanto, a sociedade civil.
E poderíamos continuar a diante passando pelo banho de Btsabé que levou David ao pecado mais covarde da Bíblia, as muitas secas (de Abraão a Rute) que pontuam a história da salvação, os muitos poços em torno dos quais se realizam muitos diálogos entre homens e mulheres na Bíblia (desde a de Jacó/Jacob até ao da samaritana), que na tradução se trata do mesmo poço. O Novo Testamento está imerso na água. Do batismo de João que abre o Evangelho de Marcos, ao batismo de Jesus, ao Mar de Tiberíades, onde acontecem os chamamentos/chamados dos apóstolos, muitos dos quais eram pescadores, trabalhadores da água, acontecem. No Evangelho de João, começa a vida pública de Jesus com o milagre da água transformada em vinho, e o "eu tenho sede" ressoou entre as poucas palavras no Gólgota, quando "água e sangue" saíram do lado do homem crucificado.
Os Salmos são continuamente molhados com água, que mata a sede, dos homens e da corça. O canto da corça sedenta, metáfora da busca de Deus, está entre os mais belos hinos poéticos da Escritura.
Como a corça anseia pelas correntes de água, assim a minha alma anseia por Ti, ó Deus. “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo:quando virei e verei a face de Deus? As lágrimas são o meu pão de dia e de noite, enquanto como
sempre me dizem: "Onde está o teu Deus" (Salmos 42:2-5). A metáfora da corça sedenta que, depois de longas caminhadas, chega a um riacho seco e ressequido é muito forte e rica, é habitual na literatura espiritual, inspirou um dos mais sublimes e elevados cânticos espirituais da história da espiritualidade (o de S. João da Cruz). Quem tiver alguma vez ouvido a brama de um cervo sedento – ou por estes lados, na Itália, de um corço ou de um gamo - sabe que é um som grito perturbador, um lamento doloroso desolador difícil de esquecer. Um som que terá deve ter atingido o homem antigo do Oriente Médio, mais capaz do que nós, de em ler e decifrar os lamentos da criação. Aquele salmista, talvez exilado ao norte, na região onde nasce o Jordão, longe de Jerusalém e do seu templo, tomou o grito animal mais excruciante que tinha ouvido e fez dele o canto da sua alma, ansiosa por um Deus da juventude que já não existia mais. A Bíblia está cheia de palavras emprestadas da natureza e dos animais para tentar dizer o que as emoções humanas não conseguem: a queima de um arbusto, a nuvem que repousa sobre uma montanha, o fogo no Monte Carmelo, a brisa suave, a chuva.
Não é fácil usar a imagem da sede para descrever o relacionamento com Deus. Uma certa literatura religiosa dissolve a metáfora ao equiparar a fé à água que sacia a sede. A sede seria o movimento ascendente do homem, a questão antropológica à qual Deus responde com a oferta da fé. Nesta perspectiva, não haveria nada religioso na experiência da sede, que seria apenas a premissa da fé, a antecâmara da vida religiosa que começaria quando, logo que se chega à nascente, se bebe - a sede termina no encontro com a água. Para muitos, isto é o que é a fé, e nas Escrituras há peças de apoio para tal interpretação da água e das sedes (Jo 4,13-14).
Mas cada salmo é muitas coisas ao mesmo tempo, é uma estratificação de significados e diferentes experiências de fé e humanidade. Sobre esta sede, o salmo também nos sugere algo diferente. A sede não é apenas uma preparação para a experiência religiosa, ela já é a fé, já é o relacionamento com Deus. O tempo da sede é o tempo da fé. Neste salmo, Deus é mencionado 22 vezes. Um cântico de desespero pela ausência de Deus, é um dos salmos mais habitados por Deus em todo o Saltério. O deserto na Bíblia é um lugar de encontro com Deus. A terra prometida não é o único lugar onde Deus habita, nem mesmo o templo. Moisés não entrou na terra prometida para nos dizer que também o deserto e a sua sede podem ser a tenda do encontro com Deus, talvez o mais puro e verdadeiro. A sua morte fora de Canaã é também uma forma de eternizar a promessa e o seu desejo.
O salmo, então, nos adverte contra um erro típico do homem e da mulher de fé, o de identificar a fé somente com a água. Este é um erro muito comum, daqueles que pensam e vivem a fé como um acampamento estável em um oásis rico em água, que sendo encontrada ao fim de um primeiro caminho nunca mais se abandona. Aqui a corça descansa, serena e saciada, naquele novo jardim do qual ela não se afasta para novas andanças. Esta é a visão da fé como consumo de bens espirituais, como conforto, como plena satisfação do consumidor religioso, que esquece a sequela e o arameu errante. O Salmo nos lembra que a sede é a condição originária da vida espiritual adulta, porque mesmo que encontremos alguma nascente ao longo do caminho, é necessário levantar imediatamente a tenda, retomar o caminho sem demora, e logo refazer a mesma experiência da sede-fé. Que a crise da fé não é aridez, mas sim o fim da sede. Enquanto cuidarmos da sede de Deus e de vida, estaremos caminhando no único caminho bom, melhor ainda se for na companhia dos pobres e dos sedentos e famintos. A fé bíblica é gritar a Deus no tempo infinito da seca, pois nenhuma experiência do divino pode satisfazer o nosso desejo de paraíso. Não há água nesta terra capaz de saciar a sede de Deus, e se nos sentirmos religiosamente saciados, é muito provável que estejamos bebendo a água dos ídolos, que também é uma máquina de venda automática de bebidas refrescantes. É interessante, então, observar um detalhe: embora o texto hebraico fale de um cervo ('aiàl), a tradição sempre viu uma corça neste salmo. Talvez porque somente as mães realmente conhecem os gritos lançados por certas ausências, e somente elas aprenderam verdadeiramente a paradoxal beatitude da sede.
Neste salmo, a imagem da água também contém uma bela metáfora da evolução de uma vocação. Começa com uma primeira água, a do primeiro encontro da juventude. Continua depois ao longo da vida com a experiência da sede, quando vagueamos em busca daquela primeira água que não conseguimos mais encontrar, e enquanto vagueamos nossa garganta seca de água se enche do grito de Deus. Para terminar, talvez, com uma água diferente que encontraremos onde e quando não estávamos mais procurando - é muito bonito que uma das últimas palavras de Jesus que os Evangelhos relatam seja: "Tenho sede". Vivemos esta secura como uma experiência de imperfeição, de falta, às vezes de fracasso, e esquecemos a bem-aventurança da sede: "bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça", que têm fome e sede de mim. Lamentamos a água da nossa primeira juventude porque não entendemos que essa água foi principalmente destinada a inflamar a nossa sede para depois caminharmos pelo mundo como peregrinos sedentos. Até que, em um bendito dia, entendemos que é dentro dessa fome que se esconde e se encontra o sentido religioso da vida. Ali está a pobreza e a pureza que almejávamos no primeiro dia, e que confundimos com a água. E, naquele dia, sentimo-nos amigos solidários com todos os sedentos, os famintos de pão e de justiça, com todos os necessitados da terra, e nos tornamos finalmente pobres. Pois descobrimos que a fé não é posse, mas promessa.
O templo aquático de Ezequiel
Talvez a página mais bonita sobre a água seja aquela que nos foi dada pelo profeta Ezequiel: "Então ele me conduziu até a entrada do templo e vi que sob a soleira do templo havia água fluindo em direção ao leste [...]. A água descia sob o lado direito do templo, do lado sul do altar. E ele me fez sair pelo caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta pelo caminho de fora, até à porta exterior, pelo caminho que dá para o oriente e eis que corriam as águas do lado direito".(Ezequiel 47:1-2). A água cresce ao vivo enquanto Ezequiel a observa espantado e um pouco assustado: "O homem avançou em direção ao leste e com um cordel na mão medindo mil côvados, então ele me fez atravessar aquela água: ela alcançava meu tornozelo. Ele mediu outros mil côvados, depois me conduziu através da água, e ela alcançava meu joelho. E ele mediu outros mil côvados, e depois passou por mim através da água, e ela chegou aos meus quadris. Ele mediu outros mil côvados: era um rio que eu não conseguia atravessar " (47:3-5). Estamos com ele no rio-corrente, sentimos a água subir de nosso tornozelo até aos quadris e mais além. Ezequiel está dentro de seu vau junto com um anjo. Desta vez, o homem e o anjo não lutam, não há lesão do nervo ciático. Somente a bênção de uma mensagem eterna sobre o espírito, sobre o templo e sobre a vida permanecem. A visão continua: "Quando me virei, vi que na margem do riacho havia muitas árvores de ambos os lados. Ele me disse: "Estas águas fluem em direção à região oriental, descem na Araba e entram no mar: fluem para o mar e curam suas águas. Todos os seres vivos que se movem para onde quer que a corrente chegue viverão, e lá os peixes serão abundantes, porque aonde essas águas chegam, elas curam, e onde a corrente chega, todos viverão" (47:7-9). O anjo mostra a Ezequiel a paisagem. Onde antes só havia deserto e aridez, cresceram muitas árvores, "cujas folhas não murcharão: seus frutos não cessarão, e a cada mês amadurecerão, porque suas águas fluem do santuário". Seus frutos servirão de alimento, e suas folhas de remédio" (47:12).
Água e espírito, água é espírito. A Bíblia é um imenso e infinito cântico à vida. Tudo nela expressa apenas e sempre a vida. Ela a expressa de muitas maneiras e com muitas imagens, mas nessa cultura a água canta de uma maneira diferente e muito forte. Aquele povo herdeiro das tendas móveis, têm em seu código genético a busca da água para poder viver. Durante milênios viram-na chegar em sua estação e dar de novo vida ao que parecia estar morto e teria morrido se não tivesse chegado. Viu o deserto florescer em mil cores após as chuvas primaveris, e naquelas ressurreições nasceram as mais belas orações, os salmos mais poéticos floresceram. Se quiséssemos entender algo desta visão do templo-nascente, teríamos que lê-la no deserto de Sur, ao lado de Agar, ou no deserto com Moisés e do povo murmurando por causa da sede; sentir a sede em nossa carne e depois fazer a experiência da água que vem e nos salva. A água é a irmã pobre do espírito: utile et humile et pretiosa et casta.
O grande quadro da água e da vida culmina com o homem e seu trabalho: "Em suas margens haverá pescadores; de Engaddi a En-Eglàim haverá uma extensão de redes" (47:10). Sem homens e mulheres trabalhadores, o milagre das águas não está completo. No auge da água encontramos o homem, e por fim o trabalho.
Este é o humanismo bíblico, este é o cântico de Adão, que como o ápice de uma manifestação cósmica de Deus coloca trabalhadores, pescadores que espalham suas redes. Outros pescadores, alguns séculos mais tarde, levarão a água do espírito sobre toda a terra, quando, chamados enquanto trabalhavam, reconheceram nessa voz, a voz da vida porque, trabalhando, tinham permanecido ligados à mesma fonte. A templo-nascente, imerso nas águas que geram um rio que inunda, fertiliza e vivifica o mundo, está entre as páginas mais belas de toda a Bíblia e entre as páginas mais proféticas de Ezequiel. Justo porque expressa o passado e o futuro juntos: bereshit e eskaton. Em Ezequiel esta água contém uma das mais poderosas mensagens religiosas, teológicas e sociais do humanismo bíblico. O templo é, e pode ser, uma nascente jorrante de água que dá vida se essa água não permanecer fechada e egoisticamente guardada dentro do templo. Somente se partir dali para inundar o mundo. A água do templo não é destinada ao consumo interno do templo. Aquela água não é produzida para as necessidades da pureza do culto religioso. Não: aquela água nasce dentro, mas flui para fora. É uma água laica, civil, secular. O Ezequiel, o sacerdote de Jerusalém, acredita que o templo é o lugar da presença da glória de YHWH na terra. Mas o profeta Ezequiel sabe e diz que essa presença não está lá para ser consumida no culto, pelos seus fiéis, pois é gerada para ser dada aos que estão fora do templo.
"A fonte não é para mim", a bela expressão de Bernadette de Lourdes, é um lema profético universal na relação entre o templo e o espírito. A água vem para fertilizar a terra. Não é dada gratuitamente pelo Céu para lavar os escorredores do sangue dos sacrifícios sob o altar do templo. As religiões e comunidades espirituais podem continuar a gerar água viva e saciar a sede das pessoas se superarem, com castidade, a tentação perene de beber a água que delas provém. Ezequiel, que tem esta visão após o templo ter sido destruído por Nabucodonosor, intui que, para que pudesse ainda existir um novo templo após o exílio, a fé e o templo não poderiam permanecer como antes - toda grande crise muda a relação entre fé e culto. O ter aprendido, numa imensa dor, que seu Deus permaneceu verdadeiro mesmo se derrotado, que a fé era possível mesmo sem um lugar sagrado porque o lugar de Deus é a Terra inteira, tinha mudado a religião e o culto para sempre.
O templo com as grandes águas é então um grande legado espiritual de Ezequiel, uma mensagem que começa na terra do exílio da Babilônia e percorre toda a Escritura. Voltamos a encontrá-la, por exemplo, no livro de Sirácida (Eclesiástico), que retoma a imagem do templo-nascente de Ezequiel e a aplica à sabedoria: "Eu, como um canal que sai de um rio e como um aqueduto que entra em um jardim, disse: 'Vou regar meu jardim e regar meu canteiro de flores'. Mas eis que meu canal se tornou um rio, e meu rio se tornou um mar" (24:41-43). O templo é pequeno demais para conter a água da sabedoria.
O profeta Ezequiel retorna na conclusão do Apocalipse, o último livro da Bíblia, em outra imagem obra-prima, como culminação de mais de meio milênio de profecia que tinha escancarado o templo para fazê-lo convergir com o mundo inteiro: "E ele me mostrou um rio de água viva, cristalino, fluindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da praça da cidade, e em cada lado do rio, há uma árvore da vida que dá frutos doze vezes por ano, dando frutos todos os meses; as folhas da árvore são para curar as nações" (22:1-2).
Aqui a água não flui de debaixo do templo, mas do "trono de Deus e do Cordeiro". Na epifania final do espírito, o templo não existe mais. O templo desapareceu da paisagem da nova Jerusalém, como lemos alguns versos antes em outra passagem paradoxal e estupenda: "Nele não vi templo algum: o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, e o Cordeiro são seu templo". (Apocalipse 21:22). Como a Lei, o templo é um pedagogo, que um dia terá que desaparecer para abrir espaço para o encontro imediato com a água viva. Neste novo mundo, a árvore da vida não está mais no jardim do Éden, mas cresce no meio da praça da cidade. Uma frase maravilhosa. A praça será o novo nome do templo. Este é o grande cântico da laicidade bíblica: praça irmã, escritório irmão, fábrica irmã, trabalho irmão. Água irmã.
Crédito das fotos: Simona Sambati
Bibliografia:
- Bruni L., L’anima e la cetra, Qiqajon, 2021.
- Bruni L., L’esilio e la promessa, EDB, 2021.