A tarde do dia 6 do Fórum Socioeconômico Ambiental foi dedicada ao chamado Momento Banzeiro, igualmente realizado no Centro Cultural dos Povos da Amazônia.
fonte: edc Brasil
Na cultura local, banzeiro significa as ondas que se formam e agitam o rio. Por isso, a programação trouxe uma mesa redonda sobre novas economias, justiça climática e participação civil na COP 30 – a ser realizada ano que vem no Brasil, em Belém – e um painel com vozes de lideranças comunitárias da Amazônia, além de apresentações artísticas regionais.
Participaram da mesa redonda Rodrigo Gaspar, co-diretor executivo do Sistema B Brasil, Marina Gattas, co-diretora da Outra Economia – Aliança pelo Bem-Estar Coletivo, Raíssa Almeida, co-presidente da Associação Nacional por uma Economia de Comunhão Brasil (Anpecom) e Rodrigo Apolinário, também da equipe Anpecom, como mediador.
Gaspar trouxe a perspectiva de como o Sistema B deseja ressignificar o que os negócios enxergam como sucesso, propondo a metodologia do triplo impacto: social, econômico e ambiental.
“Viemos desse lugar de novas economias para auxiliar uma artesã, por exemplo, a mostrar que as penas que utiliza não são de animais vivos e que isso pode gerar um certificado e um incremento de valor no seu produto”.
Gattás reforçou a importância de conectar os diversos movimentos para mostrar que a economia precisa estar a serviço das pessoas e do planeta. E instigou:
“Comunidades, criem suas próprias definições de sucesso, do que é viver bem, do que faz sentido”.
E Almeida enfatizou a comunhão proposta pela Economia de Comunhão como um dos caminhos para viver por uma nova economia:
“comunhão de recursos, mas não só. Também de experiências, de vivências, de dons, de saberes tradicionais, de conhecimentos empíricos”.
Durante a mesa redonda, os e as especialistas também abordaram em profundidade a urgência de agir por mais Justiça Climática.
“Sabemos que dinheiro e impacto ambiental caminham juntos. Se pintarmos um mapa do mundo, os poluidores, emissores e os que consomem em demasiado são os países que chamamos de norte-global. É quem se beneficia desse sistema. E o prospecto científico é bem pessimista para o aquecimento global. Nessa trajetória, temos a previsão que dois bilhões de pessoas serão afetadas pelo calor extremo e a maior parte delas está no sul-global. Ou seja, são as pessoas que menos destroem, as que mais serão afetadas (já estão sendo)”, explicou Gattás.
Durante o diálogo, os participantes do Banzeiro foram convidados a se engajarem com a COP 30, a ser realizada ano que vem em Belém, na região Amazônica. “É por isso que a sociedade civil deve participar da COP 30. Porque queremos nos envolver, queremos deixar de ser invisíveis, queremos ser ouvidos”, completou Almeida.
Após a mesa redonda, seguiu-se um momento de relatos de diferentes agentes sociais, indígenas e ribeirinhos da região que vivem pela Economia de Comunhão em suas comunidades: Roberto Brito e Viceli Costa, líderes comunitários da comunidade ribeirinha de Tumbira, Myrian Vasques, liderança na comunidade indígena Filadélfia de etnia Ticuna, Laura Beleza, do projeto Mães Empreendedoras e Charles Barbosa, membro do Movimento dos Focolares e do Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs – CAIC, mediados por Gilvan David, coordenador programático da Anpecom.
Vasques, de etnia Ticuna, vive na fronteira com o Peru e a Colômbia e compartilhou como sua comunidade vem sendo impactada pelas mudanças climáticas.
“Vivo numa comunidade indígena onde já estamos estressados por esses impactos. Nós indígenas não suportamos tanta pressão (…) Em Benjamin Constant não temos Reserva, não temos lago e o Rio Solimões secou. Começamos a invadir o lado peruano em busca de peixe. Nosso rio é vida. Mas está contaminado. Já surgiu mercúrio. Isso é muito impactante para nós”.
Myrian também contou que precisou desistir de duas faculdades à distância porque não tinha conexão com a internet e suplicou ajuda, especialmente para as mulheres indígenas. “Lá vai o meu pedido: vamos olhar mais para nossa floresta e para o povo que vive dentro dela, principalmente para as mulheres. Nós mulheres precisamos de ajuda, atenção e de vocês para direcionarmos um mundo melhor para os pequenos que estão vindo”.
Na comunidade de Viceli Costa, a realidade não é muito diferente.
“Somos afetados pelas injustiças climáticas. Cheguei ao desespero de chorar numa canoa porque não andava (navegava) e para chegar na cidade eram três horas caminhando. Nunca vimos tanto capim nos igarapés como aconteceu. Você passa horas e horas e não chega na outra margem (…) Vamos esperar secar de novo para ter um planejamento?”, desabafou.
Para todas as lideranças presentes, o desenvolvimento sustentável da região passa pela manutenção da floresta em pé, pelo apoio ao turismo de base comunitária e valorização da cultura tradicional.
“Hoje meus filhos não derrubam mais madeira. Hoje vivemos com a natureza viva, aproveitando a floresta de uma outra forma, trazendo isso para dentro da comunidade e para a vida das pessoas”, contou Brito, empreendedor, caboclo e ex-madeireiro em seu relato.
O Fórum Socioeconômico Ambiental Amazônia Viva mostrou que economia, fé e Justiça Climática tem tudo a ver. “Essas agendas se conectam profundamente a partir de um fio condutor importante que é a preservação da vida, em todos os seus âmbitos. E, cada uma, a seu modo, almeja o bem-viver de todas as pessoas”, concluiu Maria Clézia Pinto, coordenadora do projeto Amazônia Viva.
O Fórum ainda contou com o apoio das organizações Rede Eclesial Pan-Amazônica, Rede Ecumênica Amazônizar e Outra Economia – Aliança pelo Bem-Estar Coletivo. E agradece à Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas por ceder o espaço no Centro Cultural dos Povos da Amazônia.