A terceira Escola de Verão Internacional da Economia de Francisco acontecerá em setembro, em La Verna (Convento Franciscano, Chiusi della Verna - Arezzo), e terá como título:
Homo Mendicans
Companheirismo, peregrinação e a busca da alegria
"Qual é, então, o caminho daqueles que querem renovar a economia a partir de suas raízes?
O caminho dos peregrinos sempre foi um caminho arriscado, permeado de confiança e vulnerabilidade....
Aqueles que o empreendem devem logo reconhecer sua dependência de outros ao longo do caminho:
Assim, você entende que a economia também é uma entidade que toma emprestado de outras disciplinas e conhecimentos".
Papa Francisco na comunidade da EoF
São Francisco queria que seus frades fossem mendicantes, que levassem uma vida frugal, mas rica, de fraternidade, peregrinação e pregação, em estreita ligação com os pobres e a pobreza. Essa era a sua receita para a alegria perfeita. Os mendicantes começavam sua jornada com pouco ou nada, contando com a essencial generosidade da natureza.
Durante suas longas jornadas, eles aprenderam a confiar em estranhos e a depender uns dos outros em um espírito de reciprocidade e benevolência. Quão longe está o homo oeconomicus - construído sobre os ideais de individualismo, independência e autonomia - desse estilo de vida, e quão longe está a nossa noção atual de bem-estar subjetivo da ideia de felicidade perfeita de São Francisco!
Inspirada pelo conselho do Papa Francisco, nossa escola de verão explorará o Caminho Mendicante e testará sua adequação aos nossos tempos pós-modernos.
Os cinco dias se concentrarão em cinco macrotemas:
- Profecia dos mendigos e dos frades: "Ninguém, a não ser um mendigo, escolhe depender principalmente da benevolência de seus concidadãos". Essa citação do livro Riqueza das Nações, de Adam Smith, representa bem o contraste entre o homem econômico, independente e interessado em si mesmo, e os mendigos concebidos como mendigos. No entanto, na Idade Média, as figuras do mendigo-peregrino e do comerciante eram justapostas. Um mendigo, de fato, não é apenas uma pessoa que pede esmolas, mas expressa algo mais profundo, a condição existencial de ser parcial, finito, incompleto e, portanto, vinculado a outros. Todos nós somos mendigos, porque somos todos incompletos e precisamos do reconhecimento e da ajuda de nossos semelhantes. Agostinho escreveu que os seres humanos são mendicus, necessitados e em busca de Deus, mas também somos homini mendicus, necessitados e em busca de outros.
Qual é a profecia ética do homo mendicans?
Exploraremos a história econômica das ordens mendicantes para explicar os novos elementos trazidos, por exemplo, pelos franciscanos e sua forma de vida de máxima pobreza (dentro de suas raízes econômicas e teológicas). Essas percepções ressoam profundamente com o ethos da comunidade da Economia de Francisco, que busca forjar uma estrutura econômica mais inclusiva e sustentável, enraizada na fraternidade, irmandade e apoio mútuo.
- Para além da Felicidade: Em busca da Felicidade Perfeita: Os estudos sobre a felicidade é um campo consolidado da economia. Os estudiosos têm-se debruçado sobre as dimensões subjectivas e objectivas do bem-estar, a relação entre o rendimento e a felicidade auto-referida, e os mecanismos psicológicos que determinam as preferências e o consumo. A Felicidade Perfeita de São Francisco era algo diferente daquilo a que se veio a chamar felicidade. A alegria tem muito a ver com as relações: não podemos ser felizes sozinhos; precisamos de alguém que nos faça felizes, que faça os outros felizes, que nos faça felizes uns aos outros. A alegria é uma virtude que, como qualquer virtude, deve ser cultivada e alimentada ao longo da vida. A alegria perfeita, portanto, nasce de feridas amadas, em si mesmo e nos outros, e que assim se tornam bênçãos, para si mesmo ou, mais comumente, para os outros. Para que São Francisco conheça a alegria perfeita, é preciso ser pobre. É aos pobres que chega a "boa nova", por causa da pobreza escolhida, que não é, portanto, nem destituição nem miséria e é a condição prévia que permite ser feliz. Este é um escândalo para os tempos modernos, especialmente para a economia moderna.
Em que consiste a Perfeita Alegria?
Qual é a sua mensagem revolucionária para os nossos tempos modernos, em particular para os estudos sobre a felicidade e a economia? Abraçando a noção de alegria perfeita de São Francisco como catalisador para repensar a felicidade e a economia, embarcamos numa viagem em direção a uma compreensão mais abrangente do bem-estar, enraizada na compaixão, na solidariedade e na procura de um paradigma econômico mais justo e inclusivo.
- Fraternidade e sororidade para além do individualismo: em Fratelli Tutti, o Papa Francisco expôs a sua ideia de fraternidade e de sororidade. E disse-nos isso escolhendo a parábola do Bom Samaritano. Ao escolher esta parábola, fez uma escolha forte e parcial. Disse-nos que a sua ideia é a de uma fraternidade e de uma sororidade universais centradas na vítima. Uma escolha parcial e enviesada, porque a ética do samaritano é certamente uma base sólida e inequívoca para uma civilização da proximidade e da misericórdia, mas é menos evidente como fundamento da ética da fraternidade e da irmandade, porque falta a dimensão decisiva da reciprocidade. É menos evidente porque a fraternidade e a sororidade não são apenas o conteúdo da ação individual, não são apenas um mandamento dirigido a cada um de nós isoladamente; a fraternidade e a sororidade são também, e talvez sobretudo, um mandamento dirigido a nós como comunidade, igreja, sociedade, humanidade, um verbo conjugado no plural.
Exploraremos as múltiplas dimensões da fraternidade e da sororidade, com a ajuda da profecia dos dois Franciscos (o Santo e o Papa), e tentaremos compreender a sua relevância para a economia e a vida económica contemporânea.
- Para além do lucro: o comércio e o bem comum na visão franciscana: A tradição cristã há tempos condena a busca do lucro. No entanto, na Idade Média, houve algumas excepções proféticas. Antes de serem teólogos, os franciscanos eram observadores atentos da realidade, especialmente das novas cidades italianas e europeias; estavam menos interessados em disputas abstratas e dedutivas e muito mais em compreender o comportamento real das pessoas. Por isso, observavam as práticas dos comerciantes e estavam atentos às mudanças econômicas e civis de uma época muito dinâmica. Desde o tempo de S. Francisco, os franciscanos tinham desenvolvido uma ordem secular mais do que as outras ordens religiosas: a Ordem Terceira. Na sua comunidade carismática, havia leigos, entre os quais muitos comerciantes. Eles conheciam-nos, eram seus irmãos. Antes de os julgarem, eram seus amigos e conheciam-lhes o coração. As primeiras boas palavras sobre o mercado e o lucro nasceram durante uma refeição fraterna, quando algum irmão comerciante lhes confidenciou a sua profissão difícil e até arriscada. E tendo visto a alma de um comerciante, aqueles teólogos viram uma outra alma do mercado. Amavam e estimavam primeiro os comerciantes, depois os mercados. O lucro não é necessariamente mau ou vicioso. Depende do objetivo que se lhe atribui.
Imaginar hoje uma relação generativa entre objetivo e lucro significa redescobrir a visão dos franciscanos, bem como o seu amor pelos comerciantes e pelos mercados. Significa compreender como as empresas podem cumprir propósitos pessoais e sociais e, ao mesmo tempo, ser lucrativas e competitivas.
Abraçando a abordagem franciscana, abrimos caminho para que as empresas prosperem não só em termos financeiros, mas também na sua contribuição para o bem-estar da sociedade. Este ethos enfatiza o imperativo de promover economias inclusivas que priorizem a dignidade e o bem-estar de todos os indivíduos, ecoando os princípios por trás da Economia de Francisco.
- A caminho da mudança. Explorando o poder do movimento coletivo na transformação social: Existe uma ligação inexplorada mas crucial entre a mudança social e as manifestações. Não faltam exemplos: da manifestação de Gandhi em 1930 à marcha de Martin Luther King em Washington em 1963, das peregrinações antigas e modernas às marchas quotidianas por questões sociais, econômicas e civis. As ordens mendicantes, como os franciscanos e os dominicanos, também cresceram a partir da ideia de que o Evangelho não deve permanecer estático nos claustros, mas caminhar entre as pessoas nas ruas, nas cidades e no campo. As marchas têm normalmente um objetivo, algo a alcançar, pelo qual as pessoas caminham juntas. Por vezes, os encontros espontâneos, o andar por andar e a deambulação também unem as pessoas numa experiência partilhada.
Antes da ideia e do objetivo, é o simples ato de caminhar em conjunto que une as pessoas. O reconhecimento do potencial transformador do movimento coletivo sublinha a importância da ação comunitária na resposta aos desafios sociais e econômicos contemporâneos. Abraçando o ethos de solidariedade e de objetivo partilhado exemplificado pelas marchas e peregrinações ao longo da história, somos recordados do poder inerente à união para alcançar uma mudança positiva. Este ethos chama-nos a transcender os interesses individuais e a unirmo-nos numa jornada comum para construir um mundo mais justo e equitativo, no qual os marginalizados sejam elevados e a dignidade de cada pessoa humana seja defendida.
Docentes:
Luigino Bruni, Universidade LUMSA Helen Alford, ANGELICUM – Pontifícia Universidade de São Tommaso d'Aquino e outras.
Coordenadores: Paolo Santori, Professor Assistente – Tilburg University |
Matteo Rizzolli,
Professor Associado de Politica Economica – Universidade LUMSA | Martina Tafuro, Scuola Superiore Sant'Anna | Enrico Marcazzan,
Scuola Superiore Sant'Anna
Secretária: Valentina Erasmo - Università di Torino, EoF Academy Research Fellow
A quem se destina e o que oferece
A Escola Internacional de verão da EoF destina-se a estudantes de mestrado e doutoramento, pós-doutorandos e jovens pesquisadores no campo da economia e ciências sociais correlacionadas. O número de participantes é limitado para garantir uma relação ideal entre estudantes e professores. Os estudantes que participam na Escola de verão intensificam os seus conhecimentos nos seus campos de estudo e de pesquisa e têm a oportunidade de conhecer outros pesquisadores num ambiente interdisciplinar e de co-geração. Embora a Escola de verão tenha como objetivo reunir acadêmicos de ciências de diferentes países, ela também incentiva a participação de profissionais da área. Este fator permite um enriquecimento mútuo e um diálogo entre teoria e prática. Os participantes na Escola de verão não serão apenas aprendizes passivos. Pelo contrário, após a aceitação, serão feitos convites para a apresentação de comunicações e posters, para que todos possam participar ativamente no processo de aprendizagem.
A escolha do local, La Verna, situada nos Apeninos Toscanos, foi deliberadamente selecionada pela experiência única que oferece aos participantes, que têm a oportunidade de descobrir a abundância espiritual da vida de S. Francisco e a paisagem e beleza natural únicas. A este respeito, não há participação online durante toda a semana do curso. O programa inclui uma mistura de palestras e workshops, ministrados por professores da EoF e outros acadêmicos convidados de renome. O programa inclui também uma série de visitas de estudo e eventos culturais.
Para mais informações, consultar a página: francescoeconomy.org/summer-school-2024/
ou escreva para: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
Créditos foto: © Matteo Rizzolli e Samuele Ramberti