Concretizar Sistemas além da Acolhida é o projeto AMU - EdC que foi criado para seguir e acompanhar as jornadas de inclusão. Em ocasião do Dia Mundial do Refugiado, contamos como a inclusão se torna possível quando há o apoio de comunidades acolhedoras, e com que resultados.
por Michela Micocci
publicado no site Fare sistema oltre l'accoglienza em 20/06/2021
A inclusão não é apenas um caminho viável, mas é possível dar um passo além, tornando-se uma parte ativa da sociedade e gerando negócios. Isso é demonstrado pela história de três jovens migrantes, Sadia, Adama e Madi, sócios e fundadores, na Calábria, da cooperativa S.A.M. que produz massas e hóstias na cidade de Rogliano (província de Cosenza). S.A.M. como as iniciais de seus nomes: Sadia, Adama e Madi. Todos três deixaram o seu país de origem na África e cada um com a sua própria história e aspirações deu início a essa start up.
Salvatore Brullo, da cooperativa FO.CO., líder do projeto, explica a gênese da ideia:
"Uma observação cuidadosa foi feita na província de Cosenza: trata-se de uma área dedicada à produção de massas. A cultura do produtor de massa pertence a ela".
O percurso está sendo concretizado pelo Fare Sistema Oltre l'Accoglienza (Concretizar Sistemas, Além da Acolhida) também graças ao apoio da Fundação Con Il Sud. A cooperativa foi registrada na Câmara do Comércio, que procederá com o aluguel dos locais, a instalação das máquinas necessárias e a comercialização.
Os três jovens empresários produzirão massas secas com o uso exclusivo de grãos finos, destinadas a serem vendidas principalmente no comércio varejista em larga escala. Quem compra a massa da cooperativa S.A.M. não está apenas e exclusivamente comprando um produto alimentar, mas também está aderindo com seu próprio gesto a um projeto de inclusão que assiste jovens migrantes a se tornarem sujeitos ativos na comunidade que os acolheu: "Eles não são mais assistidos pelo Estado, eles são contribuintes".
Há um outro aspecto muito importante a ser destacado. Ao lado da massa, os meninos também produzirão hóstias. Esta não é uma escolha casual, mas uma escolha respaldada por várias motivações, econômicas ou não. Explica Salvatore Brullo:
«O mercado de hóstias é um mercado atraente. Existe uma grande concorrência, mas também uma grande demanda. O aspecto da integração, portanto, tratando-se de um símbolo da religião cristã, é muito forte».
Por trás do nome da cooperativa - S.A.M - estão três histórias de migração: Sadia, Adama e Madi chegaram à Itália como menores em 2017.
MADI
Madi vive em Rogliano (na província de Cosenza) no SPRAR (Sistema de proteção para as pessoas que buscam asilo e refugiados) para menores de idade "Casa di Ismaele". Ele tem 20 anos e ideias muito claras. A mãe de Madi é médica aposentada, seu pai é agricultor. Não foi por razões econômicas que ele veio embora da Costa do Marfim:
«Eu estava estudando, havia terminado o ensino médio e queria me matricular na Faculdade de Economia". Foi uma escolha pessoal, de liberdade e independência».
A fim de seguir sua natureza independente, Madi há quatro anos deixou a capital marfinense e junto com alguns amigos embarcou para a Líbia. Três ou quatro meses após deixar a Costa do Marfim, ele desembarcou na Sicília, em Catânia. Ele era menor de idade e, portanto, foi aceito nos abrigos reservados aos menores estrangeiros desacompanhados. No verão de 2020, após o primeiro e duro lockdown exigido pela pandemia, foi oferecido a ele um curso para trabalhadores na produção de massas frescas artesanais. Ele gostou da ideia, e se mudou para a província de Cosenza. Em maio de 2021, recebeu uma outra proposta, reforçando mais uma vez a sua convicção de que fez a escolha certa ao vir para a Itália: tornar-se um sócio trabalhador da cooperativa: "Espero que isso nos permita integrar-se ainda mais. Tornar-se autônomo. Crescer. Talvez, com o tempo, possamos também contratar outras pessoas para trabalhar conosco. Isso seria bom"! E o que você pensa sobre o fato de que a produção de hóstias esteja também prevista? "É algo a mais, que nos permite expandir a produção".
SADIA
Era junho de quatro anos atrás quando Sadia desembarcou na Itália. Menor de idade, com apenas 17 anos, ele deixou o Senegal para trás e passou cerca de doze meses em prisões na Líbia. Ele saiu e começou a trabalhar para juntar o dinheiro necessário para pagar a travessia do Mediterrâneo. Ele era movido pelo desejo de projetar uma vida melhor para si mesmo:
«Eu disse a mim mesmo, vou para mudar a minha vida e a vida da minha irmã».
Após pagar os barqueiros, ele e alguns de seus amigos vão ao ponto de encontro para a partida, à noite, na praia. O barco começa a navegar. Mas depois de apenas um quilômetro eles têm que recuar, para a Líbia. Nem uma única luz sobre o casco funciona, é impossível ir ao mar naquelas condições. Eles tentam novamente vinte e quatro horas depois: zarpam à meia-noite, e às sete da manhã estavam de frente à costa da Calábria. Eles foram colocados em um navio que tinha vindo ao seu socorro. Sadia, na época menor de idade, foi transferido para o centro de acolhimento de menores "Casa di Ismaele" em Rogliano, na província de Cosenza. Com ele, estavam cerca de quinze meninos. Foi ali que ele se tornou um adulto. Recém maior de idade, em 2019 é recebido primeiro no SPRAR de Strade di Casa em Rovito e depois, a partir de outubro de 2019, é incluído no projeto do Escritório de Migrantes da Arquidiocese de Cosenza "Allarga lo spazio della tua tenda" (Aumenta o espaço da sua tenda), financiado pela campanha Cei "Liberi di partire, liberi di restare" (Livres para partir, livres para ficar). Um projeto que apoia os jovens em termos de moradia e treinamento, e os acompanha em sua inserção no mercado de trabalho. O curso de produção de massa fresca que Sadia participou no verão de 2020 fazia parte deste percurso. Mas é apenas um pedaço de um mosaico maior, pois, enquanto isso, o senegalês de 21 anos deu outros - importantes - passos: obteve seu diploma do oitavo ano, conseguiu duas colocações de trabalho (em uma gráfica e em uma fábrica de massas) e trabalha como assistente de cozinheiro. Agora ele vive em um apartamento com alguns amigos.
ADAMA
«Para ter um futuro é preciso primeiro ter um presente, e o presente só pode ser o trabalho». Foi assim que o jovem Adama, senegalês, de 21 anos, um dos três jovens trabalhadores membros da cooperativa S.A.M., respondeu a uma pergunta sobre sonhos e futuro.
Adama nasceu em 13 de março de 2000 e até quatro anos atrás ele viveu na cidade de Tambacounda, na parte oriental do Senegal, onde estudou e trabalhou no campo: «Eu não pensava em vir para a Itália. Eu não pensava sobre isso. Comecei a viajar sem uma razão precisa e parei na Argélia por sete e oito meses porque encontrei um emprego em uma fábrica». Porém, os amigos com quem ele havia deixado o Senegal decidiram partir novamente e ele, para não ficar sozinho, os seguiu até cruzar as fronteiras da Líbia. Felizmente, Adama não vive a terrível prisão da Líbia, como muitas vezes acontece com os muitos migrantes antes de deixar a África. No entanto, como todos, Adama paga para entrar em um barco para atravessar o Mediterrâneo. O barco não é grande, e nele há cerca de 150 jovens, alguns deles menores de idade. Às três horas da manhã, a navegação começa. Estamos no verão e o mar está calmo. À medida que a luz do dia se instala, amontoado no barco, sem água para beber e o sol no seu pico, o calor e a sede se tornam insuportáveis:
«Eu não sabia que era tão difícil. Pensei que com uma ou duas horas de viagem chegaríamos à Itália».
Durante uma semana após o desembarque, Adama foi alojado em uma estrutura temporária instalada em uma quadra de vôlei, mas «eu estava feliz porque estava vivo, nem todos conseguem chegar vivos». Depois, junto com os outros menores, ele é transferido para Rogliano, no SPRAR "Casa di Ismaele". Ele estuda e aprende a falar italiano. Quando atingiu a maioridade, Adama, como Sadia, continuou sua jornada em direção à autonomia no SPRAR para adultos em Rovito "Strade di casa", e depois, em outubro do mesmo ano, juntou-se ao projeto do Escritório de Migrantes da Arquidiocese de Cosenza "Allarga lo spazio della tua tenda". Graças a este projeto ele é ajudado a dar alguns passos importantes, tais como alugar um apartamento em Cosenza, administrar as contas e as despesas, às quais ele não estava acostumado, revezando-se na cozinha para preparar o almoço e o jantar: em suma, uma vida independente. Você acha que a cooperativa será bem acolhida, poderia haver problemas de racismo? «Eu não sei. Eu continuo seguindo o meu caminho. O racismo existe em todo o mundo, mas eu nunca tive problemas».